2005-11-15

"Conheci-te"

Conheci-te num tempo que já não existe.
Tinha menos cabelos brancos e corria pela vida.
Hoje a vida corre, corridinha, apressada por entre folhas e remas de papel.
E corre em milhas e mais milhas e nuvens e histórias sem finais felizes.

Conheci-te noutro tempo.
Almada e o Cristo.
Belém ao alto, Belém ao perto. Belém em longas golfadas de ar e de vento.

Conheci-te nesse tempo que não existe mais hoje.
Hoje já não é momento.
Hoje já não é Passado nem Futuro.
Não reside tempo no dia de hoje.
Nem esse Passado… Passado em Carcavelos, o Oceano sussurrando nomes.
O Oceano de murmúrios em surdina.

Conheci-te num tempo que já não existe.
E nessas viagens que povoam os meus dias, nessas viagens que me enterram em papéis, sonho também rever-te. Diferentes olhos agora, voltados para o peito e já não para esse Oceano de caracóis dourados.

Conheço-te num instante.
E para que de mim não fujas.
E para que de ti não fuja.
Chamo-lhe instante eterno.
E para que não viva no tempo.
E para que do tempo não viva.
Chamo-lhe instante sagrado e eterno de tempo.

Na reverência do beijo que lhe dedico existe o aroma do mar em ondas douradas, teu cabelo, uma vida de existência feliz, apenas um instante.