2006-01-30

"Hoje"

Hoje abandonou-me Camões…
Hoje abandonaram-me Pessoa e até o Mário.
Queridos amigos de tantas e aconchegantes memórias.

Poesias de Amor e de abandono.

Hoje, perdido nas palavras e nos carinhos de ontem, não sei nem conheço o futuro.
E hoje, do dia de hoje, estou alheio.
Alheio e contrafeito, coração perdido, se de borracho se de desfeito,
Não sei.

Hoje, deixaram-me amigos e palavras.
Meus velhos companheiros de viagem… Até Bocage me abandonou.
Escárnio ou maldição, tal regalo não tenho, nem ironia do destino, nem má fama, nem má fortuna, nem Amor ardente…

Só demente…

Hoje abandonou-me a Cecília, o poeta, não faz rima, não sente, não vê.
Sem asa ou pronúncia ritmada, azar ou infortúnio, não tenho.

Hoje são cegos os olhos de meu coração. Maldita cidade pequena!