2006-04-06

"Permanece"

Já não olho tuas fotos a cada instante.
Já não o faço.
Vício, acto reflexo, ou modo de saciar esta sede.
Já não o faço.
E nesta ressaca de não te ver, nem no papel, sangro.
Sangro um pouco.
Espinho na mão, não no coração.
Coração permanece teu.
Coração permanece fiel.
Mas o espírito, ó amiga amada.
No espírito inicia o frio, estendido ao corpo.
Punho direito frio, quase morto.
Sangro, é certo, apenas um pouco.
E já não olho tuas fotos a cada instante.
Quero assim enganar-me, desdizer-te.
Desamar esse rosto cândido.
Deamar esse sonho inconstante.
Não sei, não posso.
Coração permanece teu.
Coração permanece cruel.

3 Comments:

Blogger Flour said...

Sofrido, penetrante. Verdadeiro, singelo. Poema que faz viajar, que me reflecte no espelho, as sensações.
Lindo.

8:54 da manhã  
Blogger Renata Lobo said...

Lindo!!
Amei essa parte:

¨E nesta ressaca de não te ver, nem no papel, sangro.
Sangro um pouco.
Espinho na mão, não no coração.¨

Tem uma sensibilidade rara!
bjim

1:49 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus

Paloma Bianca Zuzarte

11:34 da tarde  

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