2005-08-22

"Trago"

Um trago de caneco de barro.
Gole sorvido num segundo.
Como vida.
Íris no liquido reflectida.
Os cabelos, agora brancos.
E as histórias das rugas, agora fundas.

Um trago sorvido de caneco sem fundo.
Toda a vida.
Mel e fel, olhar dividido nessas duas cores.
Cabelos sempre cansados.
No rosto leitos de rios sem água.
Uma mensagem.

Era Domingo, nada poderia correr mal.
Nem a brisa do mar ou a vida do Oceano revolto.
Cabelos no ar.
Asas de alma esbaforida.
Estórias, vida, vidas.
E tantas mentiras. Nada poderia correr mal.

Era Domingo, olhar seco no firmamento.
Lábios quase cerrados.
Apenas um esboço de sorriso enquanto sorvia do caneco sem fundo, um trago do imundo mundo.
E a íris hipnotizada numa dança sem sentido, onda vem onda vai.
Batem asas as alminhas e voam. Mortes sem fim.
Nada poderia correr mal. Era Domingo.

Um trago de caneco de barro.
Como adivinhar que seria amargo?