2005-08-23

"É Verão"

É Verão.
É Verão.

Chegará o Outono não tarda muito.

E na morte anunciada da estação Rainha vejo a morte anunciada do ano.

Ultrapassagens rápidas. Rasgam-se faixas, quebra-se trânsito.

Dilaceram-se folhas dos calendários

Frenesim de tempo sem parar.

Doentes alucinados vestidos de lençóis brancos. Espectadores passivos. Tudo isso, somos. Loucos. Já embrulhados nas mortalhas alabastro que levaremos no final dos tempos.

Agora é Verão. Ainda é Verão.
Não desejo saber mais nada.
Basta-me o saber ser Verão, mesmo que pela nesga desta janela gradeada apenas veja o terraço e algumas andorinhas iniciando a debandada.

É Verão. A camisa ainda me faz calor. Suor escorrendo peganhento. Camisa não me deixando mexer nem enxugar.
É Verão.

Sou observador, passivo. Mas amo a estação. Sentimento platónico que busca ser correspondido pelo menos do mesmo modo.

É Verão.
Raios é Verão!

Será que mais alguém o sabe? Grades, malditas grades. Maldita nesga de janela. Sentido e Razão em debandada, como as andorinhas, como os sentimentos.

É Verão.
É Verão queimo por dentro da mortalha alva.