2008-08-11

Vela

A vela apaga-se. Resta-lhe pouca cera por onde arder. Tremeluz. Diminui seu brilho dourado. A vela apaga-se. Suspiro-lhe, quase em sopro, desafiando-a para uma derradeira aventura, para uma derradeira investida de amor. A vela apaga-se, deixa escorrer as suas últimas largas e mornas gotas, para a doce e imaculada terra. Entristeço-me ainda mais. Dedico-lhe um demorado olhar, como que o último. Seu salgado corpo estremece. Já viu de tudo, felicidade e dor. Experimentou a luz. Viverá em breve o inverso. A vela apaga-se. Meus amigos a vela morre. Já viveu de tudo e foi feliz sem o saber. Hoje queda-se em silêncio. Resta-lhe pouca cera por onde viver. Morrerá de certo. Ainda jovem, mas com um derradeiro brilho imenso. A vela apaga-se. E com ela também o seu tormento.
Namasté