2004-09-13

Antigo Amor

Um antigo amor nunca parte, não quando o chamamos assim, com um misto de carinho e abandono poeirento.

Um antigo amor não envelhece, não se corrompe…
Mas também não se vive mais.

Um antigo amor ao virar da esquina, ou numa outra surpresa repentina, um antigo amor, deixa-nos sempre pasmados.

Molhes de recordações do orvalho em ébrias madrugadas, são agora naufrágios.

E…

Rasga-se a alma em mil defeitos e outras tantas memórias reencontradas.

Amor antigo? Porque te chamo assim?

Podem passar os anos, vir as rugas, rodeares-te de filhos desse outro que não eu.

Não importa.

O mundo é pequeno e escasso em ar quando te encontro casualmente na escadaria cinzenta do shoping, ou num balcão de madeira sobre o mar em fúria num entardecer em chamas.

Não importa.

Se viva se morra, não importa, serás sempre um amor inacabado.
Um dia, um dia quem sabe.

Nesses dias do futuro que sempre tentamos tiranizar, num desses dias talvez um reencontro, talvez mais dois tiros no coração.
Dois beijos arremessados contra o céu toldado de escuridão.

Não sei.
Não importa.

Morreram as estrelas e morri eu.

Sobram recordações desse destroço que fomos um dia.

Não sei.
Não importa.

Só se morre uma vez.

Podes arremessar-me tantos mais tiros nesses lábios de canhão como um dia houve estrelas no céu que não me matas outra vez.

Não importa.
Até um dia.