2005-08-26

"Nada"

Não resisto, mas nem sequer tento.

Pequenos truques, não me aplico.

Não ver, não respirar, não sentir.

Terra-pó-e-nada.

Disse-mo tantas vezes, antes de partir o meu avô.

Terra-pó-e-nada.

Não corro nem desisto.

Abraço o fim do dia.

O céu caindo em fogo, a terra seca e árida.
Barro, mãos, corpos inertes no caminho.
Ninguém resiste.

“Nadie le puede resistir”

Brechas nesse chão que foge adentro do veludo negro.
Céu não estrelado. Imenso mar plúmbeo.

Ao redor…
Cabanas, tectos, redomas pueris.

Nada lhe pode resistir.

Cerram os olhos, voltam as faces.
Param de respirar, um instante um minuto.
Ignoram a dor e a alegria.

Tudo falha tudo é fútil e frágil.

O mundo acaba.

Terra-pó-e-nada.

Barro na beira do caminho.

Tento parar o tempo.
Apenas tenho sucesso em parar o meu próprio relógio.

Terra-pó-e-nada.