2005-09-01

"Salvação"

Salvaste-me

Era ruína meu vocabulário e farrapo minha indumentária.
Era desalinho, era negação, era a concórdia da mudez, era noite.

Salvaste-me

Não foi teu toque, nem teu olhar.
Não foi teu corpo, nem teu carinho.

Salvo.

Era decadência e demência. Indigente e vagabundo.
Era o vazio de olhar nesse poço, íris e outros reflexos, pesadelos e noites em branco.
Era um punhado de sonhos doentes, esvaindo-se pelos poros.

Salvo.

Não foi o brilho de teu olhar, tão pouco teu perfume, tão pouco teu sabor, tão pouco o contorno perfeito de teu regaço, tão pouco os filhos que não me deste.
Não foi tua boca de lábios rosados em molduras de sorrisos cândidos.

Salvo.

Salvaste-me.

Foi o modo e o tom. Foi o modo e o tom como o disseste. Foi o modo, o tom e a pronúncia. Foi o modo, o tom, o sentimento e a pronúncia que dedicaste nessa única palavra.

Minha salvação.

Salvo.

Agora…

Salvos da ruína os dois.