2008-01-21

Lágrimas

A beleza, quando no seu estado puro, enche-me tantas vezes o olhar de lágrimas. Frágeis barragens de água salgada, com destino mais elevado que o de ficar.
Partir, partir, rolar rosto abaixo, pescoço abaixo, terra abaixo, oceano adentro.
Chorar de alegria?
Sim de alegria.
A beleza, quando pura, seduz, embriaga, enche-me o rosto de lágrimas.
Partir, partir, não podem ficar.
Lágrimas, como a beleza, têm de ser livres, têm de partir.
E se no meu corpo cresce jardim, belo e puro jardim, é porque no adubo e na terra, no dia e na noite, houve chuva de lágrimas gentis, num dia, em que viram e sonharam, em que viram e souberam, em que cresceram e brotaram, lágrimas de alegria.
Essa beleza, que me toca, que me invade, que me solicita e que me partilha é imensa.
Transcende-me e ultrapassa-me.
E derrama-me em lágrimas quentes, fervorosas lágrimas de alegria, de dias, de noites, de vidas sem fim