2007-11-18

É Domingo



É Domingo, dormes no sofá.
Ontem e amanhã estão longe.
Mesmo o dia de hoje ainda não te alcançou.
Apenas tu e o sofá num suave e doce embalar, quase o esquecimento por breves minutos.
Lá fora o Outono adensa-se, tons rubro, laranja, fogo.
Só o calor se parece esfumar nesse tecto de nuvens, flocos e fiapos de sonhos. Quase neve, pura cama de gelo glaciar.
Um dia todos seremos anjos e lá moraremos.
Nas nuvens, digo, sonho, fantasio.
Anjos.
Asas de pura alabastrina existência.
É Domingo. Eternos quinze minutos nos quais voas.
Tuas asas, as almofadas, tuas nuvens esse sofá cinza.
Ontem e amanhã são sempre longe demais.
E o dia de hoje... É miragem, ainda não o alcançaste.
Espreguiças-te.
Apenas tu e o sofá, caramelizada curva do tempo, açucarada, melosa, melada e claro bem está doce.
O esquecimento é tantas vezes um dom e uma proeza.
Hoje o esquecimento é tão somente tranquilidade.
Nas nuvens, dizemos e sonhamos e desenhamos outros mundos.
Anjos.
Hoje é o sétimo dia.
Se até Ele descansou porque não tu?
Se até Ele descansou porque não nós?
Também divinos.
Também eternos.
Esfiapam-se as nuvens, termina o dia.
E lá fora há mensagens de Outono.
Espreita o Inverno.
No sofá fazes ninho, fazes vida, fazes existência, tranquila, sim de certo.
Um dia todos seremos anjos e o sofá será a nossa morada tranquila.

Agora da janela miro o fim do dia.
Rubro e em fogo. Qual Outono, qual término de viagem.

Também na noite há vida.
Como no Inverno.

Calor de lábios.
E os anjos?
Que dizem e que contam?

Voam.
Nuvens esfiapadas, alabastrinas, como asas. Como desenhos no infinito.

E esse anjo na sala de estar. Cinza o sofá. Cinza a tv.
Rubra a vontade.
Como o Outono
Como o fim do dia.
Vermelho vivo.