2008-05-04

Viver

Por vezes temos de viver.
Parar um pouco do corre-corre, do mata-mata e viver.
Não digo "apenas" viver, porque quase sempre não é fácil "apenas" viver e não lhe quero tirar a força ou desmerecer o acto de percorrer o dia e a noite em ciclos que mesmo que imperfeitos, se tocam, se abraçam, se completam. Por vezes temos de viver. Sentir o pulsar do nosso coração, a brisa matinal, o gentil correr das nuvens pelos céus, a fuga do sol e o céu estrelado mesmo antes de adormecer.
E viver no calor da gratidão de existir.
Mesmo na imperfeição do ciclo do dia a dia, do corre e corre, do mata e mata.
Deixarmo-nos guiar pelo destino.
Sim somos mestres e senhores, sim somos divinos.
Mas o destino mesmo assim corre ligeiro, tantas vezes parece viver o dia, a noite, as alvoradas e os entardeceres por nós.
Só que o destino não se alegra e não se entristece...
Eu sei, eu sei...
Só que viver "apenas" viver, pode ser tranquilo e preenchedor, não é necessáriamente mediocre ou insuficiente.
Eu sei!
Rebelde assim mesmo, inconformado assim mesmo.
E no entanto vivo apenas.
Poeta e apaixonado assim mesmo.
E no entanto vivo apenas.
Como o coração, como o nosso coração que não precisa que pensemos nele a todo o tempo para que se insurja contra a mediocridade da inércia e apenas nos dá vida.
Apenas, apenas...
Viver.
A luz do dia irradia sempre e alegra sempre meu coração.
Nunca me reduzo ao acto de apenas viver, mesmo quando aparentemente, aparentemente o faço.