2004-09-30

"Sótão"

Só no calor do aconchego desse lar me encontrei.
Chamaram-lhe pequeno e banal, como insulto fútil e inútil.
Só nesse calor fui rei, fui senhor.

Chamaram-lhe encruzilhada.
Disso não me importei e assentei arraiais.
Acendi fogueiras que me alumiaram os dias ladrões e escorregadios.

Nesse desterro fui feliz.
Chamei-lhe topo do mundo.
Sótão de sorrisos e vendavais.
Nas noites calmas viam-se estrelas.
E eram apenas detalhes de sorrisos maiores.

Queimei incenso e sonhei ser monge, mas herege como sou, no som dos sinos fiz amor sem cessar com mulheres belíssimas que me vinham visitar, como se fossem sereias perdias num qualquer Oceano rebelde e revolto.
Caracóis, cabelos, coxas.
Amém.

Chamusquei os dedos e também a alma. Falei em Amor, quando era apenas desejo. Mas tudo era bom e certo, afinal nesse sótão eu era rei e senhor.

Ah!
As saudades que eu tenho de ver as estrelas…