2005-07-23

"13"

Um segundo!
Um segundo apenas.
Desperdício de suspiro.
Desperdício de beijo.

Um segundo!
Um segundo apenas.
Nascer e morrer.
Desperdiçar-se para o mundo.

Só te toma um segundo.
Só te toma uma golfada de ar.

"12"

Numa hora já coube. Numa hora já vazei. Numa hora imaginei esta esfera e as outras.
Numa hora Sol, sauna, banhos turcos de suor quente.
Numa hora saliva e sangue.
Numa hora refeição, almoço, carne, corpo revolto, corpo rebelde.
Numa hora inícios, fins e intermédios.

"11"

Ninguém é dono de ninguém.
Mesmo quando se Ama alguém.
Ninguém é mestre, ninguém é aprendiz.

Que rumos então?
Que rumos para criaturas que hoje criam e amanhã destroem?
Que rumos para criaturas que se dizem eternas, divinas?

Gregos e Romanos, não sabiam.
Gládios decepando pombas.
Sacrifícios.
Altares desta vida.

Putrefactas águas pasmadas.

Altares marrom.
Borrão mata borrão.
Borrão apaga borrão.
Borrão seca borrão.

Ninguém.

"10"

Nunca dizer nunca é um bom mote de vida.

Tudo se transforma:
Amor;
Tristeza…
E até Saudade.

Se no futuro houver ainda lugar, guardemos lá o odor das flores do passado.

"7"

Sede? Álcool! Gula? Açúcar… Desejo? Sexo… Toque de lábios carnudos com batom sabor silvestre, sem espinhos nem derrame de sangue, mas rubros. Sempre rubros.
Sede? Gula? Desejo?

Luxúria, canibal, um desespero gritante.
Os pecados capitais são sempre mais.

Marketing do século XXI.
Consumo.
Luzes néon vendem sempre mais.
Luzes néon vendem sempre muito.
Pecados capitais e outros louvores do século XXI.

Num shopping perto de sí!

"8"

Quando toda a tranquilidade do teu dia surge nos palácios do consumo, rodeado por luzes fortes, cores berrantes e gente que passeia de sacos em punho, estás perdido.
Quando toda a felicidade de teu dia é encher um saquinho de papel com malhas, gangas, perfumes e rolos de papel, estás perdido.
Quando sorrateiro chega o dia vinte de cada mês e do saldo bancário já só tens memórias de ter estado positivo, perdido estás.
Quando teu carro é sempre velho, é sempre lento, é sempre pequeno demais, e nos shoppings falas com todos os vendedores de carros, perdido estás.
Quando só o ar condicionado, o geladinho, o livrinho da moda, te são apelativos, palácios do consumo tua segunda morada… Caído e esticado ao comprido estás.

"9"

Sorriso incondicional

Teu sorriso incondicional, por isso perfeito, caloroso bom dia em enigmático luar matinal.
Como rendição em noite sem desespero, sorriso frontal, quente, deliciosamente habitual.
Teu sorriso incondicional, bons dias e outras palavras, no perfume da tua pele suave.
Como dia sem noite, como noite sem dia, moradia e refúgio esse sorriso, só por isso, só por ele, só portanto, faz sentido retornar um e outro dia.

"4"

Numa pétala todos os Odores.
Numa gota todos os Oceanos.
Num beijo todos os Amores.

Na verdade, apenas vivemos uns segundos.
Na verdade, uma amorfa vivência todos os dias…

A verdade é uma reposição e outra e outra, sempre o mesmo filme.
A verdade é uma falácia. Vista e revista. Contada e recontada.

Numa alma todo o Universo.
Num Sol todas as Estrelas.

A eternidade reside num segundo.
Nesse segundo apenas.
No tempo que dura o primeiro beijo.

Toda a paixão é morta.
Toda a paixão queda fria.
Toda a paixão é fútil após o primeiro segundo de Vida.

Numa pétala todos os Odores.
Numa gota todos os Oceanos.
Num beijo todos os Amores.

"6"

Dizem-me tantas vezes cinzento.
Cinzento e com hálito a pardal morto.
Fecunda imaginação atropelada num segundo.

Dizem-se tantas vezes, preto no branco.
Imundo.
Olhares vasos do brilho dos Oceanos.
Chumbo.

Deixa-me tantas vezes cinzento.
Hálito descarregado no Oceano.
Morto.

"5"

Miséria miserável de ver o relógio passar.
Peganhento tempo, desperdiçado em largas gotas imundas.
Miserável espera, relógio sempre parado.
Desespero.
Não chega a sexta-feira.
Nunca.

"3"

Soberana.
Praia dourada embalando beijos no entardecer.
Soberana.
Senhora de encontro ao céu em curvas de nuvem.
Soberana.
Respiração ofegante. Até o suor é cortante.
Soberana.
Ânsia, fome de desejo sôfrega e infinita.
Fogo, uma só labareda de umbigo ardendo.
Fogo, uma só labareda de nádegas mirando o céu.

Arde o ar.
Já não o respiro.
Arde o ar.
Soberana. Em fogo.

"2"

Estranha forma de Vida; Estranha forma de Amar.
Estranhos dias e pasmadas noites.
Tudo circula em redor de outros Sois que não os desse olhar.

Estranha forma de Vida. Esta de Amar desamando.
Luares frios, orvalho não é suor.
Orvalho não é saliva.

É estranho.
Não lhe chamem Amor ou tristeza.

Lua reflectida em olhar pérola.
Circunferência imperfeita.

O dia acaba, mas não morre.
A palavra silencia-se, mas não se queda fria.

Estranho modo de Vida.

"1"

Rasgão de luz.
Sem costura.
Sem remendo.
Rasgão d’alma.
Sem remédio.
Sem cura.
Rasgão d’ar.
Sem suspiro.
Sem murmúrio.
Rasgão da vida.
Sem sentido.
Sem sentido.

2005-07-12

"Anjos e outros Infernos"

Cotovias e outras asas.
Finalizem aqui todas as penas.
Inferno azul e celeste e magenta.

Andorinhas e outras asas.
Anjos infiéis em esgares de penosos sorrisos.
Inferno rosa e lilás e dourado.

Escorre suor.
Chamo-lhe abandono de água.
Abandono de Vida.
Abandono do corpo rumo ao céu.

Anjos sarcásticos de sorriso cáusticos.
E curvas. Curvas delgadas e hipnóticas.
Inferno de suor em abandono.

Chamo-lhe Santo.
Voos livres e profundos.
Chamo-lhe pecado.

Porque sorri?
Porque caminha esse anjo na minha direcção.
Porque se afasta?
Porque sorri?

Anjos e outros Infernos.
Curvas.
Sorrisos.

Que não respiro.
De nada serve estar vivo, fora do alcance de teu decote.
De nada serve estar vivo, fora do alcance de teu sexo.

Inferno Amarelo Lilás e Azul Celeste.
Puto da vida com tantos anjos a esvoaçar!