2007-06-30

Ainda Não


Ardósia negra e fria

Não chega a madrugada nem há calor em tuas palavras.

Longa espera, viagem que nunca quis trilhar.

Impelido pela madrugada, esquivo-me a abraçar-te.

Como se fosses mais que ardósia, fosses mármore.
Como se fosse mais do que apenas uma rua, fosse a aldeia das casas brancas.


Ardósia.
Negra mas não poluta.
Fria mas não morta.

Ainda não.
Ainda não….

Naufrágio em céu pastel


Rumo a lugar algum.
Bebo essa embriaguez sem fim que não sei travar.

O gelo é naufrago que se dissolve sem retorno, como minhas palavras o foram para ti naquele dia.

Rumo a lugar algum.
Esse pão salgado não o sei digerir.

Cubo de gelo em naufrágio cerca ao mar, veludo negro de sufoco e asfixia naquele dia.

Rumo a lugar algum.
Vejo céu em fogo, rosto em fogo, olhos em fogo.

Afogo-me rumo ao mar, estendo-mo na areia.
É de veludo o céu.
É cheia a lua.
É a maldição da palavra.
É a maldição do sangue a correr nas veias.

Aguardo.

Rumo a lugar nenhum.
Salga-me o corpo com as nossas lágrimas.
E deixa-me ir nesse naufrágio gelado amiga.

Diva - Estrella Morente



Hoje meu triste céu.

Lágrimas de alegria e tristeza

Lua cheia, nuvens esparsas.

E duas Estrelas

Uma eras tu.

Outra a diva.

Inundado nesta alegria triste transbordo.

Quando morrer ainda ouvirei tua voz.

Seja hoje ou daqui a vinte anos.

Voz de diva




Agora deixo-me inundar e tomar pela tristeza, sem culpa, sem justificação, sem sanidade.

Dificil Amar

Não amamos o que queremos.
Amamos o que podemos e sabemos.
Não é maldição, é apenas nossa condição.
Seres incompletos e inacabados.

Desejamos amar.
Correm as nuvens.
Julgamos tremer o firmamento.
Mas não.
Mentira de teus lábios embriaga meus ouvidos.
Brilho que têm teus olhos miúdos.
Frio.
Musica triste como minha impotência face ao destino.

Não amamos quem queremos.
Amamos quem podemos e sabemos.
Triste e inacabada condição.
Seres sempre infantes.

2007-06-25

Pequeno ensaio sobre a Perfeição

Início pela negativa:

Não sou perfeito!

Poderei ser muitas coisas, de certo outras tantas coisas não sou, mas perfeito, amigos garanto não o ser.

Não sou perfeito, mas não minto, não engano, não atraiçoo.
Não sou perfeito, digo muitas vezes a verdade mesmo quando ela dói, mas tantas vezes ela tem de doer, para curar, para abrir e poder sarar feridas.

Perco todos uns dias um pouco mais do que, o na verdade ganho.
Perco vida, perco sanidade, procuro não perder amizade mas nem sempre o consigo (e tal enluta-me a alma e entristece-me o peito).
Perco luz no olhar, perco cabelos, perco alegrias, perco inocência, perco tantas vezes a paciência.

Também ganho, nostalgia, muita nostalgia, amargura e com ela algum amadurecimento.

Nem tudo é amargo contudo!

Ganho mel muitas vezes, nem sempre onde o busco. É certo que mel e fel andam de mãos dadas nos dias e locais menos próprios.

Ganho poesia. Mesmo sendo uma poesia desgarrada de alegria hoje.
Ganho poesia. Mesmo sendo uma poesia alucinada e desligada do dia-a-dia.
Ganho poesia. Mesmo sendo alegre num dia e lacrimosa no seguinte.

Ganho fel muitas vezes, nem sempre porque o busco. É certo que fel e mel andam de mãos dadas nos dias e locais menos próprios.

Nem tudo é amargo contudo!

Tenho fé, tenho uma fé cega em tantas coisas belas.
Tenho fé no Sol e nas outras estrelas.
Tenho fé numa noite perfeita de S. João em que não há um milhar de estrelas mas sim um milhão, céu povoado de balões de papel, argonautas em voo apaixonado rumo a Galáxias mais perfeitas que esta!
Tenho fé!
E tal faz-me imperfeito.

Não faz mal, padeço dessa deformação, mas consciente dela sou.
Um dia, um dia serei morto.
E não serei nem nesse dia perfeito.

Não busco esse altar, esse céu…
Não o sonho, não o desejo…

Tenho fé numa noite perfeita de S. João em que não há um milhar de estrelas mas sim um milhão, céu povoado de balões de papel, argonautas em voo apaixonado rumo a Galáxias mais perfeitas que esta!
Tenho fé!
E tal faz-me imperfeito.

E tenho sangue e tenho Paixão…
E tal faz-me imperfeito.

Quase diria:
Que alegria!

Mas há dias de fé.
Mas há dias de fel.
Mas há dias de mel.

2007-06-22

Sangue



Se o meu sangue é ímpio e impuro.
Vazarei as veias, esvaziarei-me dele, correrá rumo ao mar, para que se limpe, para que se salgue, para que se liberte.
Assim farei a meu sangue infiel.
Pois estou pleno… E de nada mais necessito.
Nem sangue, nem suor, nem ar, nem água.

Essa luz me domina.

Chamam-te cristã.
Chamo-te Tudo.

2007-06-21

Veias

Palavras, palavras de paixão, de amor, de entrega, de dedicação.
Palavras, relâmpagos, trovões, abala todo o mundo, treme o firmamento.
Palavras, tantas, tamanhas, imensas descomedidas!

Mas…

São tão pouco as palavras.

Palavras arrebatadoras são nada mesmo, quando em face do sentimento.

Deste sentimento forte que me dá vista e me cega num mesmo instante.

Secam-me as veias de tinta, em teus lábios quentes e húmidos.
Secam-me as veias de tinta, não de sangue, que explode, que relampeja, que me fulmina.
Secam-me as veias de tinta, não de paixão, luxúria, fervor, ebulição.

2007-06-15

Tirania


Tirania, doce tirania, me tem cativo.
Tirania, doce bênção me tem refém.
Tirania, católica prece me tem preso.


Tirania, de peito ao vento e minhas mãos em teus cabelos rebeldes.
Tirania, de voo e queda e voo e queda e voo e queda e voo sem queda.
Tirania, de teus lábios, tuas coxas, teu umbigo, teu murmurar sedutor


Tirania, ter e não ter, possuir sem possuir, entregar sem esperar.


Tirania, rosas sem espinhos só perfumes, só apimentados paladares, malícias exóticas, doces em canelas e cravos e prisões agridoces e salgadas.
Tirania, perder sem esperar, ganhar sem saber, poder sem querer.

Tirania, só Tu.

Tirania, nunca me tive tão Livre!

Pecador

És católica.
Serei pecador.
És católica.
Serei pecador.
És católica.
Serei pecador.
És católica.
Serei teu amor.
És católica.
Serei pecador.
És católica.
Serei pecador.
És bênção.
Serei pecador.
És católica.
Serei pecador.
És católica.

Credo

Católica, Apostólica, Romana, Fé.

Símbolos e preces.

E bênção, santificada bênção.

Noite e estrelas.

Nuvens o céu. Talvez o Céu.

Símbolos, sinais e rezas.

Católica, Apostólica, Romana, Fé.

Na qual creio…

Quando juntas tuas mãos ás minhas.

Este é meu Credo.

E tu minha Santa.



2007-06-10

Católica

Primeiro um terror enorme em pronunciar teu nome.
Como se o fosse fazer de modo e forma errada.

Uma hesitação.

Respiro de modo sôfrego. Como se todo o ar que partilhamos fosse precioso.
Depois meu nome em tua boca.
Teus lábios finos de contorno perfeito e gentil.
Uma e outra vez, meu nome.
Uma e outra vez teus lábios.
Uma e outra teus olhos carentes e expressivos.

Outra hesitação.

Inspiro e respiro teu nome, teu perfume, que são aliás uma e só uma emoção devastadora e avassaladora.

Quase que o proíbo.
Teu nome.
Como se fosse profano e perigoso.
Se calhar até o é.
Contenho-o até me embriagar em seu perfume.
E depois…

Outra hesitação.

Já não sei se respiro, sôfrego.

Mas sôfrego bebo-te.

E… Chamo-te pelo nome olhos nos olhos uma e outra vez.

Vicio-me em ti.

Vivo em ti.