2007-11-22

Felicidade

Felicidade.
Tem odor e em cor e tem amor.
Felicidade acaba.
E tem dor.
Felicidade tem palavra e tem alma.
E tem memória e esquecimento.
Felicidade.
Tem aldeia, tem vila, tem cidade.
Tem amor e tem dor.
Felicidade.
Tem presença e tem ausência.
E tem sempre sorriso pronto e feliz.
Felicidade.
Tem tanto.
Que no tão pouco que consigo sempre dizer e contar, não cabe, não tem, não sabe.
Felicidade.
Tem nome.
Tem lugar.
Tem destino.
Tem vontade.

2007-11-18

É Domingo



É Domingo, dormes no sofá.
Ontem e amanhã estão longe.
Mesmo o dia de hoje ainda não te alcançou.
Apenas tu e o sofá num suave e doce embalar, quase o esquecimento por breves minutos.
Lá fora o Outono adensa-se, tons rubro, laranja, fogo.
Só o calor se parece esfumar nesse tecto de nuvens, flocos e fiapos de sonhos. Quase neve, pura cama de gelo glaciar.
Um dia todos seremos anjos e lá moraremos.
Nas nuvens, digo, sonho, fantasio.
Anjos.
Asas de pura alabastrina existência.
É Domingo. Eternos quinze minutos nos quais voas.
Tuas asas, as almofadas, tuas nuvens esse sofá cinza.
Ontem e amanhã são sempre longe demais.
E o dia de hoje... É miragem, ainda não o alcançaste.
Espreguiças-te.
Apenas tu e o sofá, caramelizada curva do tempo, açucarada, melosa, melada e claro bem está doce.
O esquecimento é tantas vezes um dom e uma proeza.
Hoje o esquecimento é tão somente tranquilidade.
Nas nuvens, dizemos e sonhamos e desenhamos outros mundos.
Anjos.
Hoje é o sétimo dia.
Se até Ele descansou porque não tu?
Se até Ele descansou porque não nós?
Também divinos.
Também eternos.
Esfiapam-se as nuvens, termina o dia.
E lá fora há mensagens de Outono.
Espreita o Inverno.
No sofá fazes ninho, fazes vida, fazes existência, tranquila, sim de certo.
Um dia todos seremos anjos e o sofá será a nossa morada tranquila.

Agora da janela miro o fim do dia.
Rubro e em fogo. Qual Outono, qual término de viagem.

Também na noite há vida.
Como no Inverno.

Calor de lábios.
E os anjos?
Que dizem e que contam?

Voam.
Nuvens esfiapadas, alabastrinas, como asas. Como desenhos no infinito.

E esse anjo na sala de estar. Cinza o sofá. Cinza a tv.
Rubra a vontade.
Como o Outono
Como o fim do dia.
Vermelho vivo.

2007-11-11

Egoísta


Mas afinal o que é a poesia?
A minha poesia?
És tu.
Tu e o Oceano.
Tu e um dia de Outono.
Tu e o Oceano num dia de Outono.
És tu.
Toda minha poesia.
Todo meu sangue.
Todo meu alento.

Mas afinal o que é a poesia?

Anjo azul, em céu rosado.
Fim do mundo em tons cobalto.
Num suspiro o fim da minha existência.

Mas afinal… Que sentido faz a fome e a morte em África?

Sou egoísta.

Tenho esta visão.
Desse omnipresente anjo azul.
Asas em fogo.
Céu rosado pintalgado de flocos cinza claros.

Sou egoísta.

Morrem inocentes, são tamanhas as injustiças nesta esfera.

Tenho esta visão.
Anjo omnisciente. Celeste
Asas de prata.
Céu vermelho pincelado de tons branco claros.

Sou egoísta.

Meu Universo é enorme. Gigante.
Morrem crianças no meu país.
Não quero saber.

Sou egoísta.

Sou feliz.

Anjo azul.
Mundo cobalto.

Outono


Outono de tantos prazeres.
A felicidade é dourada.
É Sol.
São árvores de tons ocre e fogo.
A felicidade é serra.
São montes e vales.
E rios rasos de água.
(Num Inverno que não vem)
Outono de mil prazeres.
São teus olhos de mel.
Teus lábios de gengibre e mil especiarias.
És Sol.
És eterna.