"Sucumbe"

Não é licor que degustas é meu sangue escorrido em cálice.
Não são lábios, não é língua, são labaredas da entrada do inferno, onde me fazes escorrer em acto inconsciente.

Divides.
Uma hora em sessenta minutos e um minuto em sessenta segundos.
Divides.

Rasgas.
Um corpo em carne e osso, a carne em musculo, sangue e vísceras.
Rasgas.

Ébria criatura salvadora. Sucumbe. Sucumbe.

"H2O"

É corrupto meu desejo, é corrupta minha alegria, é até corrupta minha luxúria.

Trajas de negro ou é apenas tua alma desnuda ao luar?

Escorre suor em gotas fétidas como saliva decadente.

Até lhe chamava sangue, não fosse coisa diversa.

É corrupto meu desejo, olhos negros e moldura cálida.

Derrete gelo em palma de mão aberta.

Transmuta-se ser em quase H2O

"Ligeiro toque de putrefacção"

Numa poça de meu sangue, nasceu minha Eva prenha.
Chamei Ana, à progenitora e Clara à descendência.

Eram ambas Maria, como promessa de redenção.

Numa poça de meu sangue amargoso e com um ligeiro toque de putrefacção vi teu fim, em cruz escarlate e tons terra.

E nasces-te.
Maria.
Maria Ana.
Maria Clara.
Num instante de agonia e fim, poça de meu sangue fecundo, em fim criador.

Nesse tom de ironia sarcástica e putrefacta, toda a luz era carmim e púrpura e escarlate. Como incêndio de luxúria pelo término do meu tempo aqui.

Maria.
Maria Ana.
Maria Clara.

“Lust for Life”

Uma coisa chamada Amor, que é como hipnotizar galinhas…(oo oo)

Álcool e drogas (oo oo)

Eu sou é um gajo moderno (oo oo)

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Desejo e a Vida.
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Sucessão de anos, sucessão de recordações, sucessão de emoções… (oo oo)
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Receios e contradições…

Desejo de Vida,

Álcool, drogas e hipnotizar galinhas… Também sou um gajo moderno. E valho um milhão em prémios… (oo oo)

“Lust for Life” (oo oo)

"Maus Hábitos - Porto"

Hoje deixo cá um disparate:

Se eu traçar a minha linha do lado de cá.
Se tu traçares a tua linha do lado de lá.
Assim paralelas.
Assim perfeitas.
Assim geométricamente desenhas.
Nem no infinto as nossas linhas se hão de tocar.

Mas o "Maus Hábitos" é um bom hábito a adoptar.

Mesmo...
Concerto duvidoso...
Mesmo...
Slogans duvidosos...

Mesmo preferindo eu os "Sex Pistols", os verdadeiros.

É o que é...

Ai pois é.
Ai, "mai nada"!

"Vida"

Dizias que a vida é lixada. E acrescentavas curta.
Não é assim.
Se houve um só dia que sorriste; Se houve um só dia que correste entre as árvores, bêbado da sua sombra e moreno pelo Sol que nos dá a Vida.
Não é assim.
Se houve um só dia em que mergulhaste nu no Oceano e foste apenas mais um dos de Neptuno.
Não é assim.
Há saúde e doença.
Há nascimento e há morte.
É assim a Vida.
Doces e amargas misturas.
E digo-o agora no amargo, para que o não possa desdizer no doce.

"Fernando Pessoa"

Hoje faço uma daquelas excepções, publico um bocadinho de Fernando Pessoa:


"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

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Põe a tua mão
Sobre o meu cabelo...
Tudo é ilusão.
Sonhar é sabê-lo.
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Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não?
...

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."