2006-11-27

"Manias"

Uma amiga querida, das letras, das palavras, das emoções, uma vizinha, uma mulher cá da terra, fez-me um desafio, um destes dias.

Um desafio simples, sim sem dúvida.

Explanar-me e espraiar-me nos meus pequenos pecados, nas minhas pequenas rotinas, nessas manias que são tanto de mim como eu delas.

E... Eu disse-lhe um dia.

Um te digo e te conto.

Um dia moeda ao ar.

Das minhas manias não reza a história.

Mas uma é mais forte. E reina sobre todas as memórias.

Essa implacável e tantas vezes imperecível Paixão.

Que morre tantas vezes na flor da idade, tenra e juvenil e ainda tão inocente.

Raio de mania…

E a Vida, nos seus dias rosa, nos seus dias em fogo, nos seus dias de veludo negro de abandono. É sempre a minha mania. A ela me agarro, mesmo quando ela me chuta, me empurra e me afoga em tempestades e desilusões.

Manias…

E o verbo, o verbo e o sujeito. E os adjectivos. Imensos, imensos. A mania de escrever e reescrever sentimentos, sentidos, descobrir e redescobrir. Dar a conhecer. Morrer tantas vezes no verbo, no sujeito, no adjectivo.

Viver, na Paixão, no verbo. E na Íris da Paixão. Suicídio sadomasoquista este meu. Dia a dia imenso, no qual nado mesmo que sem perícia.

E mais nada.

Tudo o mais é passado de futilidade já senil, não existe.

E uma mania, que contigo partilho amiga. A das chaves, como se tudo tivesse fechadura e código e abertura.

Chaves, chaveiros, mistérios e segredos. Se tudo se revelasse assim num passe de mágica, assim desmontar de um segredo.

Mas não o destino rouba-nos essa revelação, essa luz.

2006-11-19

"Estar"

Que estou cego!
Que se fez noite e se cerrou o firmamento.
Que estou cego e em tormento!
Que se fez frio e desnuda a treva invadiu tudo.
Que estou cego e em tormento tremendo de frio!
Que se fez o fim de todo o calor e cresceu alabastrino o caminho.
Que estou cego e em tormento tremendo de frio em sombrio destino.
Que se fez o fim de todo o som, de todo o toque, de todo o perfume.
Que estou mudo, munido de palavras em sons surdos!

Um dia acordará o desatino.

Um dia terminará o destino.

"Sucedem-se"

Sucedem-se os dias na sua correria já habitual.
Se a loucura é nossa ou a ela somos alheios isso nunca o saberemos.
Imersos até cima nessa viscosidade citadina, correm os carros, sucedem-se as luzes brancas e vermelhas.
Semáforos como enfeites de Natal. Tricolores. Autoritários mas vazios e desprovidos de sentido.
Correm por nós os dias, as pessoas, as noticias…

Passam todas as idades, todas as jornadas, todas as passadas largas do destino, uma correria sem curvas ou linha de meta.
Sucedem-se os semáforos, luzes tricolores, piscas laranjas querem mudar de via, de direcção.

Sustenho a respiração, peito ao alto, luz vermelha.

Se a loucura é nossa ou apenas vizinha, isso não o saberemos um dia? Pelo menos um dia qualquer?
Submersos pelos minutos e pelos momentos.
Submersos por profundos ditos e atravessados desditos.

Há já luzes de Natal na minha rua. As mesmas do ano passado. O momento é no entanto outro.
Mas será o destino diverso?
Brilharão brancas e amareladas.
Pequenas estrelas menores rompendo alvoradas.
E será âmbar nosso futuro?
E será rosado nosso futuro?
Amanhecer fogo. Quase que arde.
E nosso futuro como será?

Queimo as mãos em teu rosto.
Queimo os lábios em teu corpo.

Sucedem-se nuvens, correm compassadas em seu ritmo louco que será também meu que será também teu que será também nosso.

Sucedem-se as nuvens, lanço-lhe miradas pasmadas, cada dia é diverso, âmbar, rosado, roxo, rubro, amarelado, despertar dourado, sem saber o futuro cismo e me atravesso nesse dia de caminho sem regresso.

"Chega"

Chega a noite.
Mas não o frio.
Cálido vento em rubro rosto.

Chega a noite.
Mas não a geada.
Cálido rosto de mulher amada.

Chega a noite.
Mas não a trovoada.
Cálido gesto acolhedor.

Chega a noite.
Mas não a alvorada.
Cálido leito sombra recortada.

Chega a noite.
Mas não a palavra solitária.
Cálido momento de tez pálida.

Chega a noite.
Mas não o vazio.
Cálido corpo, cheio copo.

2006-11-16

"Céu sonhador"

Céu sonhador quanto das tuas nuvens é algodão agridoce?

Não sei, não dizes, nunca me respondes.

Sopra-se o vento no arvoredo e entre gemidos dos galhos percebem-se palavras de Amor.

É Outono.
Presente dourado.
Imperativo futuro.
Celeste utopia no correr de mais um dia.

Toco-a no rosto.
Nesse rosto perfeito de Montanha e de Mar.
De Vida e de Vendavais.

Hoje as estrelas rasgaram os Oceanos.
Hoje as estrelas fizeram-se Poesias.

Hoje fizeste-me acreditar de novo.

Céu sonhador quanto das tuas nuvens é algodão doce?

2006-11-09

"Três sentidos"

Um olhar.
Um suspiro.
Um beijo.

2006-11-05

"Artemis na íris"



Artemis na íris
Deusa e senhora de todo o firmamento.
Feitiço, encantamento?
Não sei, não afirmo, não duvido,
abraço e aceito.
Artemis caçadora, cortando cortinas de vento.
Sorriso e sortilégio.
Divina preciosidade,
sacramento coroado.

Artemis na íris.
Em toda a parte sempre essa Luz,
esse odor,
esse som.
Encantador feitiço.
Que desejo,
que alcanço,
que abraço.
Luminosa lua cheia e uma corrida pelas marés inconstantes do Oceano.

Desfeitas nuvens, desvanecidas dúvidas.

Artemis na íris, na pele, no passado, no presente, no futuro.
Saliva, espinhos e Rosas.

Palavras e gestos.

Passadas largas na Foz, corre o tempo, fogem as nuvens.
Frio Oceano quase Invernal, em ondas alabastrinas desfaz rochas e segredos.
Passadas largas na Foz, corre Pedro, fogem nuvens…