2005-11-27

"Dedos Petrificados"

Vivemos rápido e lento demais.

Ontem, ébrio via as ondas do mar e nele teu rosto plácido e dourado.
Ontem, fascinado acordava para tua íris como para a vida.

Primeiro dia ainda ontem. Meu cabelo também ele em cachos.

Ondas de vida. Lençóis enrolados. Velas exalando perfumes. O odor santo de teu corpo na madrugada.
Primeiro beijo roubado na soleira de tua porta. Gosto de quero mais. Sabor de vida em fogo.
Ontem entardecer rosa na praia. Fuselhas, Ourigo, Caparica, Santa Eulália, Cabo Frio.

Hoje não se encerra este peito; Hoje não se encerram estes olhos; Íris perdida no vento; Gelo de neve sem flocos, dedos petrificados, cama bem feita, copo de Porto vazio.

"Euforia e Luxúria"

Euforia e luxúria. Verdes anos.

Beijos lançados no vento. Palavras semeadas em encruzilhadas.

Carícias e bravatas roubadas em silêncio.

Peito como ondas que afagam seus pés do outro lado do Oceano. Passado de rimas e tantas histórias que fatigam as memórias.

Cabelos como canaviais no entardecer do tempo.
Outono chamando o Inverno do desengano ventoso.

Luxúria e euforia, distantes anos. Agora encarnados de memórias e lágrimas.

Beijos roubados no tempo e rasgados dos véus do silêncio. Sepulcro da tua inocência.

Morte que te arrebata do chão. Fulminante raio de luz negra. Veludo rasgado em tiras grossas e calores tropicais.

Luxúrias e euforias. Distantes verdes anos.

Familiar silêncio visceral.

Um dia houve Oceano. Um dia houve Amazonas e outras voluptuosidades.
Seios como Vida, como Vidas que foram e já não são.

Ondas como peito. Eterno abraço nesse fim de dia em fogo.
Teus braços embalam criança que não minha, só tua.

Bravatas joviais… Nunca o gesto se iria consumar…
Oceano frio molha-te os pés como sacramento. Como beijo de acolhimento e despedida.

Euforias e luxúrias.
Preconceitos são sempre fortes demais.

Paz à sua alma. Oceano Atlântico. Amazonas e outros rios. Águas residuais. Memórias sepultadas. Paz às suas almas.

Cristo redentor.
Paz à minha alma, um dia, um dia.

2005-11-22

"Mensagem"

Esse céu em fogo de fim do dia.
Esse Oceano negro de veludo frio e acabado.
Esse odor a terra cansada…
Tudo me diz o mesmo.

Mensagem em eco.

2005-11-21

"Assim é"

É uma cantiga que me deixa ébrio.
É uma dança que me deixa sequioso.
É um sentir e um viver de impossível paixão.
De impossível vivência.
Venha, venha.
Eu a farei possível.
Assim ajude teu umbigo.
Assim ajude essa sede não aplacável.
Assim ajude liquido sugado de teus lábios.

"Certeza"

Sufoca-me esta certeza.

Esse tempo que não parou nem fugiu para lado nenhum.

Esse tempo que oprime e a certeza de não ser eterno aqui.

Sufoca-me de certeza.

Beleza queimando pestanas

Beleza queimando as pontas dos dedos.

Beleza queimando suspiros, queimando lábios, queimando pulmões.

Beleza, não ser eterno, não seres eterna, não suspirarmos no tempo, nem olhos nos olhos, nem afagos, nem beijos.
Beleza na futilidade desta minha certeza inútil, oprimindo tempo, tempo.
Oprimindo pulmões e as pontas dos dedos.

Fogem lágrimas, talvez de alegria, talvez de tristeza, talvez de coisa alguma.
Lágrimas pura água salgada.
Também elas oprimidas no tempo.

Certeza de coisa alguma em tempo escasso.

2005-11-18

"Doce Inferno"

O sangue ferve sempre que olho em teus olhos.

E sufoco sempre esse calor.

Pronunciam-se palavras correctas.
Desenham-se gestos curtos e correctos.

Até que acaba outro dia.
Amanhã estaremos cá de novo.

Amanhã o sangue ferverá de novo.

Tento encontrar razões.
Sim e não.
Nunca há razão.

Sufoco-me nesse calor, que me aquece neste Inverno.

2005-11-17

"Frio"

Diz-me e não mo digas.
Diz-me sem me dizeres.
Mas sente-o.
Diz-me e não me olhes e não me toques.
E sente-o
Diz-me sentindo-o.
Diz-me e conta-me e fala-me.
Mesmo desse outro lado.

O silêncio entrepõe-se até à falta de ar.
Eu sei, eu sei.
Dia atrás de dia.
De manhã nunca fico.
De tarde nunca estou.
Dia após dia.
Diz-me e não mo digas.
Mas sente-o.
Meu Amor.

Diz-me e não mo digas.
Promessa, jura, confidência.
Coisas de Amor.
Palavras embargadas.
Toque frio e metálico da linha telefónica.

Jura apenas que me dirás.
Não!

Não jures.
Diz apenas.
Isso apenas necessito.
Que se quebre o silêncio e o embargo.
Que fine o timbre metálico do telefone.

2005-11-16

"Melancolia... Não sei"

Se é melancolia ou sonho não sei.
Se é memória ou apenas o balanço do navio nesta viagem atribulada que me deixa mareado e por isso tonto e por isso perdido sem te ter como porto de abrigo.
Não sei.

Ontem a Lua brilhava forte e o céu queimava em tons Outonais como só em Novembro é possível.
Ontem o céu queimava mesmo nesse veludo frio retalhado a estrelas, antevisão do Presépio, do Menino e dos milagres.
Não sei.

Conheci-te, um dia, uma tarde inteira debruçado nesse precipício de Oceano. Voavam gaivotas, corriam cães e miúdos. Era um caos de sons e vida. Ciganos a venderem roupa e os cafés cheios mas cheios. Odor a maresia. Conheci-te. Dia acabando em fogo. Ontem.
Não sei.

Se é sonho ou fantasia não sei.
O Cristo de braços abertos, adulto, sempre Menino. Chegará a luz. Céu retalhado a estrelas, como íris, brilhando, de lágrimas ou de contentamentos. Céu de veludo frio, hoje, amanhã. Ontem o Oceano. Porto de abrigo. Este Porto.
Tu.
Não sei.

2005-11-15

"Conheci-te"

Conheci-te num tempo que já não existe.
Tinha menos cabelos brancos e corria pela vida.
Hoje a vida corre, corridinha, apressada por entre folhas e remas de papel.
E corre em milhas e mais milhas e nuvens e histórias sem finais felizes.

Conheci-te noutro tempo.
Almada e o Cristo.
Belém ao alto, Belém ao perto. Belém em longas golfadas de ar e de vento.

Conheci-te nesse tempo que não existe mais hoje.
Hoje já não é momento.
Hoje já não é Passado nem Futuro.
Não reside tempo no dia de hoje.
Nem esse Passado… Passado em Carcavelos, o Oceano sussurrando nomes.
O Oceano de murmúrios em surdina.

Conheci-te num tempo que já não existe.
E nessas viagens que povoam os meus dias, nessas viagens que me enterram em papéis, sonho também rever-te. Diferentes olhos agora, voltados para o peito e já não para esse Oceano de caracóis dourados.

Conheço-te num instante.
E para que de mim não fujas.
E para que de ti não fuja.
Chamo-lhe instante eterno.
E para que não viva no tempo.
E para que do tempo não viva.
Chamo-lhe instante sagrado e eterno de tempo.

Na reverência do beijo que lhe dedico existe o aroma do mar em ondas douradas, teu cabelo, uma vida de existência feliz, apenas um instante.

2005-11-06

"Morte"

No Amor vive Sentimento.

No Amor existe Saudade.

No Amor vive Sofrimento.

E existe silêncio.

Mas não morte.

Não digas morte.

O Amor nunca morre, mesmo sangrando, mesmo quebrado em dois.

Não digas morte!

Neste Amor vive agora Silêncio. Frio gélido, alva madrugada de telhados cobertos de neve.

A tua voz ecoa nesse sítio onde nos conhecemos. E é eterno seu som aí.