2006-04-18

"O Jogo"


Só existia a equipa, a bola laranja e o jogo em si.
Quarenta minutos de jogo.
E como duravam esses quarenta minutos!
Para logo tudo terminar.
De noite, na maresia e de janelas abertas, tocavam-se sempre acordes dos Cure.
Sexta-feira estávamos sempre apaixonados…

Só existia a equipa, o jogo e a vontade.
Quarenta minutos de suor.
E treinos, muitos treinos.
E lesões, umas quantas lesões, dedos entortados e pés torcidos.

Agora o jogo é outro.
E tenho de me perguntar entre uma e outra gota de suor.
Onde está a equipa?

"Escolha"

Hoje escolho meu abrigo.
Hoje escolho meu farol
Hoje escolho meu destino.

Na proa e no leme, tomo meu lugar, edifico minha escolha.
Na proa e no leme, olhos no céu, coração na terra.
Na proa e no leme, onda vem e onda vai, ritmo profundo, ribombar de trovões fundo no peito.

Hoje escolho meu abrigo.
Hoje escolho meu farol
Hoje escolho meu destino.

2006-04-15

“Lust for Life 2”

Sou um gajo moderno.
Toco-te e digo perfeito e digo-te eterno.
Sou um gajo moderno.
Toca-me teu cabelo, teu olhar em fogo ameno.
Sou um gajo moderno.
Toca-me tua silhueta, minha droga minha paixão.
Sou um gajo moderno.
Toco-te no rosto, explode agitação.

"Canela e Violeta"

Absurdamente linda, luz rubra, teu rosto alabastro.
É sorriso, é fogo, é dedos a arder por te tocar.
São lagos puros sublinhados a carinhos de odor canela e violeta.

"Alvos desejos"

Alva e branca também a lua.
E choveu tudo.
Tudo lavou.
Sol descarado atrás do veludo desta noite.
E desejos.
Já choveu tudo, céu limpo.
Vejo rosto.
Vejo lua
Amada face (tua).
Alabastrino caminho, luz, redenção.
Choveu tudo, tudo lavou.
Gravada no brilho do passeio tu silhueta.
Cravada no ar nocturno tua fragrância violeta.
E desejos.

2006-04-06

"Permanece"

Já não olho tuas fotos a cada instante.
Já não o faço.
Vício, acto reflexo, ou modo de saciar esta sede.
Já não o faço.
E nesta ressaca de não te ver, nem no papel, sangro.
Sangro um pouco.
Espinho na mão, não no coração.
Coração permanece teu.
Coração permanece fiel.
Mas o espírito, ó amiga amada.
No espírito inicia o frio, estendido ao corpo.
Punho direito frio, quase morto.
Sangro, é certo, apenas um pouco.
E já não olho tuas fotos a cada instante.
Quero assim enganar-me, desdizer-te.
Desamar esse rosto cândido.
Deamar esse sonho inconstante.
Não sei, não posso.
Coração permanece teu.
Coração permanece cruel.

"Chuva"

A chuva seduz, sabias?
Delicada molha teus lábios, teus cabelos, teus ombros.
Delicada lava tuas mãos, teu corpo, tua alma.

A chuva seduz, sabias?
Biombos de nuvens, abrigam amantes da luz.
Biombos de quentes revelações e de tentações gota a gota.

A chuva seduz-te sempre.
Vem e vai. Dá e rouba. Muitas vezes carente.
Vai e vem. Aventuras e tempestades assim de repente.

Gota a gota, provas dadas em peles molhadas.
Gota a gota, suor mesclado na pureza dessa água divina.
Ombros, cabelos, nucas e corpos, imensidão de abraço perfeito.
Chuva, gota a gota, dedicada oração, partilha, canção.

A chuva seduz, sabias?
E lava tuas lágrimas e limpa teus cabelos.
E beija-te como a amante que só ela pode ser.
Delicada, delicada.

Ó criatura amada!
Fosses tu só corpo e morreríamos abraçados na alvorada!
Ó criatura amada!
Partilha de infusão, unidos em imersão!

2006-04-05

"Cantar"

Cantar, sonhos.

Guitarras e odores.

Tons rubros e negros.

Cantar, cabelo espraiando-se pelos ombros.

Guitarras e carícias, rápidos dedilhares.

É noite, arde em fogo, flor de paixão.

Perfeita fera, silhueta, criatura libertadora.

Rubros e negros são seus lábios.

Existe acordeão, de pai e mãe órfão.

Guitarras e contos.

Diluem-se no presente fantasmas de outros Natais.

Cabelo e fragrância a ópio redentora.

"Serás?"

Sou furacão que te arrebata;
Sou furacão que te rouba todo o ar para te soltar livre;
Sou furacão, nestes braços em perene bailado voarás.

Serás minha Julieta?

Sou trigal dourado em entardecer quente;
Sou sufoco de ar;
Sou sufoco do ar que te faltará;
Sou bafo quente junto ao trigo maduro, que um dia colherei.

Serás minha Isolda?

Sou mil véus celestes;
Sou mil véus terrestres;
Sou dedilhar de mil e outras tantas carícias;
Sou teu leito perfeito.

Serás minha Thisbe?