2004-07-24

Confuso

Que fazer quando até o ar se torna confuso?
Abandonar os pulmões ou tentar viver sem respirar?
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2004-07-23

Odeio

 
Odeio escrever linhas perfeita e estupidamente românticas.

Odeio ter de sentir.
Mostrar que sou vulnerável.
Que sou de carne e alma.
E não de aço.

Odeio.

Odeio escrever.
Quase tanto como odeio ter de olhar no espelho para me barbear todos os dias.

Odeio!

Odeio amar-te.
Perder-me nesse Oceano revolto e imperfeito porque sem mim no seu reflexo.
Odeio que não estejas saudosa de mim como eu sou e estou sedento de ti.

Odeio sentir-me vazio de sentido, mas pior ainda é procurar esse sentido em ti.

Não te tenho.
Não há sentido!
Nunca houve nem haverá!

Odeio...

Nem corre o maldito vento.
Nem mudam as minhas ideias.
Nem deixo de ser teimoso ou de odiar.

Mas o que odeio mesmo é escrever linhas perfeita e estupidamente românticas.
Se nunca estás.
Se nunca ouves.
Se nunca foste minha ninfa.
Se nunca o serás.

2004-07-23

 

Noite

Ainda agora é manhã mas já sufoco no final do dia.
Tudo é breve, frágil casca que se atropela e se enrola.

Ainda agora sopra brisa e faz Sol, não importa, de nada vale, sinto já o calafrio nocturno.
Roupa não tenho, amor também não.

Um conto de abandono. E este fim de dia tão próximo.

2004-07-19

Anjo

Não sou esse anjo que desejamos que seja.
 
Nem tão pouco me quedam penas nas asas.
Sou mera massa disforme de algodão.
Sirvo de encosto à tua cabeça.
 
Peito forte desfeito em emoções
Rasgadas ilusões.
Outras palavras.
Outras carícias.
 
Cabeças loucas perdidas em eternos pecados mortais, mentiras e malícias...
Dizem delícias...
 
Algodão.
Sou.
 
E já muito sujo.
Sou eu.
 
Pairo ao nível do chão.
Arrebatado num suspiro teu.
Uma onde e outra, praia de desejos ardentes.
Também ela suja.
 
Sou um anjo perdido e imundo.
Caído.
 
Mas vivo.Vivo.

Caramelo

Vida de tons castanho mas de sabor doce.
Caramelo será?
 
Duas pedras de gelo desfazendo-se em mil gotas neste copo cheio.
Caramelo!
 
Vida em tons negro, como a terra.
Doce.
Abraço acolhendo como casa.Abraço como bom filho que a casa torna.

2004-07-13

Copo

O copo nunca está meio cheio.

Corpo acabado de prazeres

Nem

nem culpa nem perdão.
de nada nos acusamos.
nem da esperança podemos falar
nem do dia ou da noite
o tempo já há muito que nada vale.

sem perdão como sem nome
e sem culpa como que frios de desnudos.

nada vislumbramos no outro
nem desejo tão pouco amor.

abandono? o de quilos perdidos na esfera dessa cintura abocanhada de
prazeres vãos.
não será nunca felicidade.
nem nunca padecerá de morte.

não chegou a ser.
esse dia.
sem culpa e sem mentira.
prejurio de fragrância rubra e lilás.
um corpo celeste inquieto.

sem dia nem lugar.
sabor inócuo e febril na insalubridade da gota de suor que não nos demos.

sem noite nem sombra.

sei sem culpa e sem perdão
e sei sem ideia formada.

beijo colado no fundo da boca, não se fomando,nem se deformando, puro e
casto.
quase alvo e puro.
assim sem culpa e sem desejo

um colo alabastrino talhado na capa de um livro, com sabor a fundo de copo
cheio, não vertido, não desejado, sem dia de perdão ou castigo.

2004-07-11

...

Porque existe o amanhã?

Porque virá sempre outro dia e logo outra noite?

Não haverá um terminus? Uma estação terminal? Um recolher para o descanso?

Afinal essa noite eterna é apenas uma promessa. Uma ilusão. Mais uma ilusão.
Como esta promessa de felicidade. Eu. O frio. E nenhum sorriso ao meu lado. Nem o do espelho da noite, eterna e silenciosa.

2004-07-10

Desterro

Abnegado e dedicado coração. Arrancava-o num segundo se assim o desejasse meu amor. Mas não, não o quer e não o farei.

Sou órfão e apátrida.
Como a lágrima do tubo de ensaio.
Analisada até ao fim.
Se vive ou se jaz fria e morta não interessa é e será apenas outra lágrima minha com amargo travo a flores guardada num tubo de ensaio escondido no jardim.

Labirinto verde e rosa.
Imóveis outros rostos que não os teus do passado miram de volta, no rosto que não este mas o outro do futuro.

Não caibo em mim. Não é alegria nem tristeza o que nos domina.
Tão pouco caos ou vazio.
Não caibo em mim.

Olhar cheio de água, rasa em lágrimas a guardar eternas no jardim secreto. Pintado a ocre e verde. Agora com sabor a deserto e a desterro.

Labirinto carnal.

Coração, partiu.
Viagem perdida. Olhos vasos de verde e rosa.
Parou.
Tudo parou.
Tempo até de parar o pulsar tão velho como tu.

Não lhe chames paixão.
Nem a insultes com poesia.

Labirinto carnal.

Sei que te desejo.
Mas não rasgaria meu peito outra vez.
Não nem por ti.

Abnegado e dedicado coração.
Já cá não mora.
Assim não o arranco neste nem no próximo segundo.

Não sei se voltará.
Se mo devolverá o deserto...

Desterro no teu colo sardento e feliz.

Perdão

Perdão?

Não.
Não terei esse descanso ou consolação.
Tenho de pagar em sangue, em raiva e em lágrimas.
Esse novo-velho amor, amorfo e amordaçado.

Loucos amantes com açaimes de aço, eternamente apáticos.
Só isso fomos.

Mentimos?
Nem sei se mentimos.

Acorrentados a palavras desprovidas de actos ou consequências.

Não tenho fuga ou salvação.
Parou aqui o relógio derretido no calor dos minutos, suor do interior, seco e amargo.

Não tenho sombra nem esperança.

Cotovias ou corvos também não sei bem...
Lamparinas rubi escamoteiam recantos angulares.

Loucura de ausências e discursos perdidos de sentidos.

Cala-te e beija-me!
Adaga dourada.
Língua.

Sem perdão.
Para sempre em silêncio.
Nem sei se menti.

Não

Não sei amar.

Já não sei amar.

Já não te sei amar?

Só não sei amar.

Vulgo

Vulgaridade.
Rasgada e arrancada vulgaridade.
Nascemos, vivemos e morremos na vulgaridade.

Diluídos em largas gotas impuras.
Oceanos de vulgaridade.

Sina e praga, vulgar.

2004-07-08

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Um só dia.
Bastava um só dia,
E deixar de ser vampiro nesse dia.
Um dia!
Peço sempre tão pouco.
Um só dia.
Bastava...

2004-07-01

Alcobaça

Ginga de Alcobaça.
Uma amiga.
Entre o rio Alcoa e o rio Baça.
Dizem que se unem na vila.
Outros dizem que a vila se separando com seu nome os baptizou.
Não sei.
Recordo o odor da névoa perto do convento.
Sabe-me a açúcar.
Lábios que nunca provei.
Lábios que jamais provarei.
“Helcobatiae”
Adeus.
Esvazio um copo.
E outro.
É linda esta Ginga.
A tua.
Faz já tantos anos.
Foi Natal.
Foi adeus.
É agora um adeus final.

Fundo de copo transparente.