2012-01-10

Partir

Um dia, um dia eu e tu, tu e eu iremos partir.
Rumo a Oeste, como o Sol todos os dias.
Nessas vagas entregaremos nosso corpo, nosso fado, nosso choro e nosso riso.
Um dia, um dia, partir, partir, partir.
Ámen.
Um dia, uma gaita de foles.
Um dia verde, verde Oceano profundo.
Ámen.
Um dia relembrado em velhos papeis, em velhos versos, na íris de nossos filhos, um dia um dia viveremos para sempre!
Rumo a Oeste, Sol em entrega diária quase derradeira.
E nos sonhos seremos imortais.
Quadros que pintamos, rostos que acariciamos, as correrias da infância, os excessos, os jejuns, os palavrões e nos mesmos idos lábios as orações. Por tudo isso e mais seremos recordados.
Olhos cor Mel.
De Verão quase Dourados.
Cabelo grisalho ao vento.
Tu e eu, eu e tu, nas tuas asas, meu anjo da guarda, partirei, sobre vagas e vagas, ondas e ondas, máres, máres, Oceanos.
E serei imortal, nos lábios e lágrimas de meus filhos, netos, Oceanos, Oceanos.
Ai quanto do teu mar é sal, aí quanto do teu sal é mar?
Mel, mel e dias e noites de fel, fel.
Enquanto nos recordares seremos Oceanos.
Jade profundo, precioso, perfeito.
Ámen!
Ámen!
Partir!

Esperança

Ano Novo, mesmos desejos, doze passas, mesmos sorrisos, mais ruga menos ruga, mais suspiro menos suspiro.
Ano Novo, doze badaladas, por quem tocam os sinos? Portugal, Portugal, (ó mar salgado quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?) Europa, Europa, que Zeus é esse que te leva cativa?
E brindamos. Vivos, vivos, revoltos oceanos.
E brindamos. Passas, bolos, açúcar aos rodos.
E brindamos. Um dia um dia morreremos e logo ressuscitamos.
Ano Novo, cantos, cantos, palavras doces, palavras salgadas.
No horizonte, pessoas amadas, no horizonte, medo de noites amargas.
Ano Novo, passas muitas passas, correm uvas secas por aqui a dentro.
Um dia novo, uma noite nova, luz e escuridão.
Mas no fim só uma cor, só um sentimento, só uma palavra:
Esperança