2006-12-31

Se?

Se me acolhes nas tuas mãos miúdas, não o sei, não ainda.
Se te acolho nos meus braços longos e fortes? Sim de certeza, assim o tricote a noite, assim nasça o dia.
Se me acolhes em teu regaço, miúda, não sei, não ainda.
Se te tomo de modo absoluto e infinito? Sim de certeza, perfume que me cativa e prende como da primeira vez.
Se me tomas, como um segredo, como uma revelação, com um tesouro raro, não o sei, não ainda.
Se te pergunto, olhos nos olhos, se me perguntas, se me tomas e se te tomo, breve, breve o saberemos.

Divorcio!!!!

Divorcio-me da razão, submerso na loucura, mas não me aparto da paixão.
Divorcio-me da vida, no reino de Hades perdido, mas nunca esventrado da paixão.
Divorcio-me da minha cidade, entre cimento e concreto largado, apartado de meu Rio, de meu Oceano, mas sempre submerso na paixão.
Divorcio-me da roupa, frio e desnudo, a ti sempre abraço, paixão, sublimação desta existência sempre tão rude.
Divorcio-me deste ano. Acolho o próximo. Só um desejo, só um pedido, só uma palavra:
Paixão!

2007

"Alvorada"

Na alvorada te encontrei, na alvorada te abracei, na alvorada te deixei partir.

Na alvorada, onda vem, onda vai. Anos e anos, rendilhados retratos bordados a grãos de areia e conchas do mar.

Na alvorada, onda chega, onda parte. Dias e dias, folhas vazias e depois cheias, conchas com vida, conchas sem vida.

Na alvorada vi-te chegar. Sorriso terno e caminhar pouco firme. Rosto elevado, carregado nas asas do vento.

Na alvorada música indecisa e indelicada, mensagem de fundo disforme, labaredas, suor, ruído e o ritmo pacifico da maré.

Na alvorada caracóis, cabelos, face, aconchegos de tantas luzes, nascimento e descoberta.

Na alvorada, íris, magia, fragrância, minhas mãos em teu alvo e gentil rosto. Pele, delicada delicia. Supremo e sublime deleite.

Na alvorada, lábios, beijos, perfume, calor. Pele, tua na minha, infusão, licor.

2006-12-29

"Marginalidade"

Pontes ligam-nos e pontes separam-nos.

Quem dera uma ponte para me atravessar.

Rasgar estas duas margens…

Emoção e discurso.

Estripados siameses.

E depois de novo irmanados.

Unidos nesse umbigo de concreto e ferro.

E candeeiros, muitos candeeiros curvilíneos, de largas lâmpadas xénon.

Pontes apartando e costurando.

Suturas de feridas descarnadas.
Peles e dentes.
Gengivas sangradas.
E pequenos nadas.

Pontes… Rasgos de pequena luz fútil de ambição etérea.

Quem dera uma ponte para me unir de novo com essa margem.

Marginalidade.

Amor e desamor. Saber e perguntar.

"Beleza em Memória"


Beleza delicada de teus dedos pequenos.
Memórias de ondas e praias e cabelos.
Beleza insubmissa nestes dias de frio Inverno.
Memórias de terra quente na planta dos pés.
Beleza inocente rebelando-se contra o despertar do dia.
Memórias de janelas e de cortinas e de estrelas raiando a aurora.
Beleza dedicada de deliciosas cumplicidades.
Memórias de dias sem fim e de noites sem escuridão.

2006-12-26

"Lábios"

Só desejo teus lábios.
Teus lábios de beijos e de doces.
Teus lábios de melodias e de segredos.
Só desejo teus lábios.
De murmúrios e gemidos.
De carícias em meus ouvidos.
Só desejo teus lábios.
Quente respirar, rosado homicídio.
Quente sussurrar, dourado presídio.
Só desejo teus lábios.

2006-12-20

Acabaram os sete anos de azar


Acabaram os sete anos de azar.

É altura de festa. Quadra natalícia mesmo a propósito
Fim de longo exílio.
Fim de longo agonizar na falta de sentido.
Acabaram os sete anos de azar.
Tive essa certeza hoje na foz do Douro. Aragem fria de rio e de mar. Céu em mil tons de fogo. E essa certeza absoluta do fim do azar.

É motivo de festa, de trompas ribombando e fazendo ondas nos Oceanos.

2006-12-16

"Lar"

Melodia suave. Seda. Cetim.

Brilho, chama, alvo marfim.

Nasceram mil dias, fizeram-se mil noites,

mil afagos e beijos em teu rosto perfeito.

Melodia suave, sem fim.

Ah poesia!

Suspiro e nascente em mim.

Transcorrem os dias, transmuta meu sangue, transforma minha essência.

E no fim do dia serás sempre só tu meu lar.

2006-12-14

"Tanto"

Tanto me diz esse olhar de despertar, de até já, de até logo.
Tanto me diz esse olhar que não me sustenho nas pernas, que perco o fôlego, que se me esvai até o sangue do corpo.
Tanto me diz esse olhar, perfeito deleite, prazer infinito de sorrisos na tua íris.

2006-12-10

"Amizade"

Café Literários, dedos enregelados, entre sorrisos brilhantes, reinventamos o dia, o modo, a forma, mas nunca a amizade.

A amizade é sagrada e eterna.

"Porta"



Dia sim e dia não.



Portas abrimos e portas fechamos.



Dia sim ou não.



Porta abriu e porta fechou.

"Imenso"







Imenso desconhecido Universo...





...E por tal sempre tão perfeito..

"Beleza Rainha"


Beleza rainha, não se vê, não se ouve, apenas se sente.

Beleza rainha poesia de respiração suspensa, livre raiar de dia frio.

Beleza rainha, rosto, curva, detalhe, um oceano difuso, mil viúvas nuvens de outros tantos amores.

"Catedral"



O futuro é um lugar distante;

Tanto como o Passado.

Sobra-nos o Presente.

E possuímos tão poucas vezes a luz e a paz para o vivenciarmos.

Talvez não esteja na nossa natureza de pequenos e meros mortais.

"Santiago"



Nunca estamos onde deveríamos estar.
Nunca fazemos o que deveríamos fazer.
Nunca sabemos o que deveríamos saber.
E com essa névoa que nos tolda a vista e embriaga o raciocínio:

Estamos, fazemos e sabemos.

Mais ainda, escolhemos!

Será poético estar cego e ter de ver, ser mudo e ter de falar.

Mas sei que quando tudo se veste de negro veludo e em mim todos os sons sufoco, apesar de surdo ouço teu peito batendo mais forte na escuridão.

E sei então por onde devo seguir.

Mais que poesia é minha vocação é meu destino.

2006-12-05

"Dar"



Dou-te toda a vida.
Dou-te a alvorada rosa e o anoitecer em fogo.
Dou-te todo o sangue e toda a raiva.
Dou-te toda a lágrima e toda a glória.
Dou-te cada instante.

E se me receberes.
Mesmo vazio do tanto que te dei…

Serei pleno.

"Dispersas"

Em teu nome, rosto cândido, jurei, fiz, prometi e cumpri.
Em teu nome, lábios doces, morei, viajei, construí e parti.
Em teu nome, cabelo revolto, mirei, provei, toquei e senti.
.
.
.
Na beira da estrada, rumo, mágoa.
Na beira da estrada, caminho, escolho.
Na beira da estrada, mapa, água.
Na beira da estrada, pausa, retorno.
.
.
.
Um recanto de sonho e de conto, de gente e de sorte, de alma que sente.
Um recanto de abrigo, fim do dia e longa jornada, partir e tornar.
Um recanto de peito e palavras, de alento e sustento.

2006-12-03

"Promessa"

Atropelam-se os dias em suas rosadas alvoradas
E nos seus curtos reinos são senhores.

Nas bocas, palavras malvadas matam e ressuscitam outras alvoradas.
Florescer de Primavera sem flores, fim de ano, espumantes e fogos de artifício.

Tudo são estrelas, também elas rainhas e senhoras, viagem nocturna por outros sons e odores.
Frio. Arrepio na nuca em visão de sublime beleza.

Atropelam-se as palavras como os sentimentos. Ébrio. Sentidos em êxtase. Estrelas de alvoradas cálidas e rosa.

Tudo são bocas de prazer. Rainhas de palavras e sentidos. Emoções, reencontrados caminhos perdidos.

Erguem-se mãos em abraços. E não se apartaram esses corpos de eternos laços.
Como criaturas perfeitas esculpidas em ébano imortal.

Atropelam-se noites. Hálitos quentes de mil afagos e carícias. Dir-se-ia inferno de prazer. Mas não. Renasce o ano numa nova promessa perene.

Estrelas e brilho.
Promessa de Paz e Amor.

"Lágrimas Quentes"

Chovem grandes gotas quentes.
Outrora diria tratarem-se de lágrimas de Artemis.
E ficaria triste.
Mas não agora…

Chovem largas gotas, quentes e doces.
Como prenuncio de Vida melhor, de dias mais férteis e menos foscos.

Até as gaivotas da cidade cinza andam perdidas.
Não há bonança, porque não há tempestade.

Apenas lágrimas quentes de Amor.