2008-06-22

Espírito Santo


Existe magia, mais forte que a Vida.
Chamam-lhe Espírito.
Chamam-lhe Amor.
Chamam-lhe Deus.
Existe magia, que nos toca, que nos dá tudo, que nos cura das feridas e nos faz sorrir alegres e tranquilos.
Voam andorinhas, vejo-as da janela de meu quarto. E árvores, muitas árvores por entre as casas.
É eterno o dia, este dia. Belo e aconchegante dia.
A noite poderá chegar, com nevoeiro como a de ontem.
Não será por isso menos eterno este dia. Belo e aconchegante dia.
Chamam-lhe Espírito.
Chamam-lhe Amor.
Chamam-lhe Deus.
Espírito Santo.
Temos todos asas e podemos voar.
Sem limites, sem medos ou receios.
Espírito Santo.

2008-06-12

Caminho do meio

Há dias melhores, há dias piores.
Há dias que amo, dias que odeio.
Não deveria ser assim,
mas nem sempre encontro o caminho do meio.
Há dias como hoje.
Que não sei.
Não quero saber.
Deve ser dos tais que odeio.
Deve ser.
Não quero saber.
Se amo, se odeio, o melhor ou pior proveito será o meu, sem dúvida.
Por isso porquê tão difícil encontrar o caminho do meio?

2008-06-11

Perfeito

Se eu fosse perfeito, seria terrível.
Antes de tudo, eu não seria eu.
E isso seria mau.
Mas esse meu outro eu, essa personagem, seria terrível, também ela.

Terrivelmente aborrecida, terrivelmente iluminada, terrivelmente casada e pai de filhos.

Seria terrível e assustador.

Não seria este pequeno poeta, rebelde de louco, ou louco de rebelde que vos escreve.
Nunca me senti vocacionado para a paternidade.
Nem para o lar doce lar.
Se algum dia o desejei, apesar da funesta falta de vocação?
Sim claro!...
Se algum dia realmente o senti no peito, como aquelas verdades inabaláveis que nos levam ao céu e à loucura?
Não.
Não.
Não.

Apenas a paixão foi senhora deste peito.
Apenas a paixão é sempre a senhora deste peito.
E nunca esmorece.
E nunca perde força, fogo ou fulgor.
Contrariamente ao que parece.

2008-06-10

Estrelas

São estrelas, meu amor, são estrelas.
O que carregas no regaço, o que carregas nos olhos, são estrelas, meu amor.
Até tuas lágrimas, salgadas, que brilham, que ganham vida, são o centro do seu universo, estrelas meu amor são.
Palavras, mesmo as tristes, palavras, com certeza as felizes, são estrelas.
Madrugada, noite, firmamento. Todo o céu coberto de estrelas, como bênção e como maldição.

2008-06-08

Lhasa


Ouço Lhasa, existe tristeza na sua voz, mas também esperança.
Cada degrau, cada passo do caminho, cada suspiro, requer entrega, energia, vontade, intenção.
Espiral, de degraus, de ar em ascensão, cada sopro um avanço e a conquista de um e outro patamar rumo ao céu.
Ouço Lhasa, está perdida, está inevitavelmente perdida. Não é senhora da sua felicidade. Quase irremediavelmente perdida.
Enternece meus dias, minhas noites, faz-me companhia e bane a solidão.
Espiral.
Ainda agora estava junto ao vasto Oceano.
E o céu era também ele infinito.
Espiral e agora…
Agora deixo-me voar

2008-06-07

Não há


Não há solidão.
Nem vazio.
Existe música e ecoa cá dentro.
Não há solidão.
Ouço arvoredo e a floresta sagrada.
Ouço ondas rebentando nas rochas.
Existe bater de coração, selvagem, voador.
Não há solidão.
Nem vazio.
Guitarra, violão, piano, flauta, tambor, tambor, tambor.
Música em eco.
Música em asas.
Música em vozes.
Música em poesia.
Ouço o arvoredo.
Não há solidão.
Dizem-me vozes, dentro, fora, fora, fora de mim.
Dizem-me musas, nos rios, nos oceanos, nas estrelas.
Dizem-me anjos, anjos, anjos.

2008-06-03

Não pode

Se me falece a poesia, morresse-me também a vida.
Se me falece a luz da mão, se me seca a tinta, pára também o coração.
Não pode.
Não posso.
Duro e estranho destino.
Se me escurece a luz do olhar e é ainda manhãzinha cedo.
Não pode.
Não posso.
Duro e estranho destino.
Sonho com sorriso debaixo do luar.
Sonho com sorriso abençoado pelo vento quente do deserto.
Não me falece a poesia.
Não deixo.
Não sei.
Sonho com sorriso. Dia. Noite. Dia. Noite.

2008-06-02

Nos meus sonhos...


Nos meus sonhos sempre trajaste de negro.
E eram sonhos de dúvidas e abandonos.
De solidão quase sempre.
Vestias-te de negro e de encontro ao veludo celeste tantas vezes não te via.
Mas sentia-te. Quase sempre. Sim. Estavas presente quase sempre.
Como as estrelas. Algumas estrelas. Uma, duas. Como se teu olhar mesmo que cerrado me mirasse onde quer que estivesses.
Como as estrelas. Bela. Quente. E desconhecia teu nome. Como os das estrelas. Desconheço. Tantos nomes. Apenas o brilho. Apenas o brilho conheço. E me ofusca e me encanta e me aquece.
Nos meus sonhos sempre trajaste de negro. E nunca era luto. Era sempre alegria. Mesmo na tristeza. Na minha que me toma e conquista tantas vezes.
Tremia de solidão quase sempre. Abrias teu sorriso. E nesse calor franco, sincero e honesto, fazia minha praia, minha casa, minha morada. E aquecia.
Nos meus sonhos sempre trajaste de negro.
E havia firmamento.
E havia esperança.
E havia alento.