"Alvoradas"

Alvoradas ébrias são clímaxes de noites sem fim.

"Quero"

Quero o céu.
Esse que nos cobre e alberga.
Esse que nos amaldiçoa e abandona.
Quero o céu.
Esse da boca e dos desejos.
Esse das palavras que unem e afastam.
Quero o céu.
Esse da íris cristalina e sedutora.
Esse celeste e perturbador.
Quero o céu.
Redentor, redentor, redentor.

"Pequenos Nadas"

Pequenos nadas.
É disso que construímos a nossa vida.
Pequenos nadas, sejam eles sonhos, ilusões, ou apenas decepções.

Pequenos nadas.

Correm os dias e debruçado no parapeito da janela vejo pessoas correr, carros correr, nuvens correr e pássaros correr. Só a estrelas permanecem no sítio de sempre.
Correm os dias debruço-me sobre a vida e suspiro. Um pouco de melancolia. Um pouco de alivio.
Suspiro por estar vivo e não ainda irremediavelmente morto.
Mas pouco.
Suspiro pouco, todos os dias.
Pequenos nadas.
Brisas e alvoradas.
Céus em rosa, em tons sépia.
Céus em veludo quente.
Jamais céus em fogo, de novo.
Pequenos nadas.
Suspiro. Curto e efémero suspiro.
Correm os dias, debruçados uns sobre os outros, quase em atropelo.
Não sei que se julgam, os dias, tiranos ou abnegados franciscanos.
Pequenos nadas.

Pequenos bens e pequenos males.
Pequenas leviandades e maldades.
Pequenas alegrias infantis.

Pequenos nadas.