2006-03-30

"Demente"

É Paixão, é o coração disparado e demente, é não saber respirar, sabendo-te ausente. É em cada segundo sem ti doente, é em cada segundo por ti efervescente.
É Paixão, é coração batendo por ti carente, privado de luz, cor e som, toque de pele gentil e ardente.
É Paixão, é coração em frenesim, turbilhão, odor, álcool, embriaguez envolvente.

És tu.
Estou demente!

"Paixão"

O título:

Paixão

O mote:

É profundo esse olhar de soslaio que me lanças.
Penetras com facilidade no peito armadilhado,
Desnudas-me ávida até a alma… Agora ávida de ti.

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O prólogo:

Recinto cheio, gentes, cores, odores.
Recinto cheio, ruídos indistintos.
Bebidas sorvidas até a embriaguez.

Nada se distingue. Uma outra hora.
Mas tudo tem um fim.
Abrupta e gentil, espera finaliza, sem aviso.

Distinto porte, rio luminoso de encantos.
Tua camisola rubra efervesce meu sangue.
Teu primeiro olhar, batalha na íris do meu, batalha na íris do teu.

Ausenta-se o fumo a tabaco.
Corto essa nuvem que me separa de ti.
Sorvo esse ar até ao teu decote. Ai! Falta-me o sopro por um momento!

Embriagado nesse teu original perfume a Rosas, faço minha morada, monto minha tenda, preparo o cerco…
Suor derretendo e tremendo por dentro.
A espada é já tua a batalha também.

Abraço essa Rosa que portas nos lábios antes do bater do sino e do fechar da porta.

Em noites assim é eterna a Paixão.
Marcada a fogo, essa camisola rubra e esse olhar de soslaio

2006-03-28

"Dispersas Primaveris"

Há Vida.
Há Palavras.
Há Primavera.

Que exista Poesia!
E que sejam felizes as Palavras, poéticas e eternas Primaveras, como todos os dias de Vida adiante de nós.
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Segredos e murmúrios, já tive.
Encolher de ombros e Oceanos demasiado vivos, demasiado vagos, demasiado dispersos.
Até suspiros tristes, já tive.

Hoje já não.

A música corre ligeira.
Bater de asas pardalito rumo ao ninho.
Regressaram as andorinhas chiques e engalanadas.

Terra fértil de tons ocre, conta segredos maiores. Flores e frutos. Doces bênçãos de mãe sempre generosa.
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Faça-se Luz e faça-se Sol e não haverá tristeza.

Faça-se Luz e dourem-se os sorrisos das sereias sardentas nas praias.

Faça-se Luz de Primavera, serão eternos três meses!
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2006-03-27

"Candura e inquietude"

Candura e inquietude no olhar.
Meu pequeno mundo rebelou-se hoje.

Candura e inquietude no olhar.
Tempestade aguardando uma praia para se revelar.

Candura e inquietude no olhar.
Solstício nado em dia de Primavera.

2006-03-21

"Dás"

Dás-me uma razão para acreditar e outra para lutar;

(Teu coração tem já dono.)

Dou-te um motivo para acreditares e outro para lutares;

(Meu coração em abandono.)

Se houve opaco vazio, caixão negro sem calor.
Se houve rasgo negro e mágoa.

Já não o sabemos.


Há sentimento, há lume, há ardor, tudo o mais é nada.
Há sentimento, há voo, há palavra ritmada

Dás-me uma razão para acreditar e outra para lutar;

(Entregas tua rosa em meu peito)

Dou-te um motivo para acreditares e outro para lutares;

(Entrego minha adaga em teu peito)

Faz-se sangue, doce e perfumado sangue, pacto de lábios perfeito.

"Morreu!"

Morreu!

Morreu tristeza hoje.

Fim do pranto.

Terceiro dia, ressurreição.

Milagre de um dia de Primavera.

2006-03-19

"Chorar"

Chorar para que esta terra seca e ressequida possa ressuscitar.
Chorar o momento presente sem a ilusão do amanhã.
Chorar e ser o dilúvio

Chorar e rasgar o arco-íris antes da bonança.

Chorar, Maria morreu.

Chorar.

2006-03-14

"Toda a vida"

Toda a vida num jornal.
Árvores salvadoras de dia abrasador.
Toda a vida num jornal em mãos pequerruchas.
Árvores, recantos e segredos.
Jornada sem fim, contos, estórias.
Toda a vida num jornal, pequerrucho, como coração, em alma imensa e eterna.

Dia abrasador.
Abraço salvador.
E aconteceu mesmo, toda a vida nesse dia.

"Pergunto"

Pergunto-me sempre quanta vida há num copo vazio?
A resposta é sempre a mesma…
Eco mudo…

Um laivo de luz rubra.
O copo cheio de novo.
Inunda-se boca, inunda-se a alma.
Corrompe-se o corpo nessa alegria fugidia.

Pergunto-me sempre, porquê tanta vida neste céu?
Pergunto-me sempre…
Resposta sempre igual.
Em eco surdo.

2006-03-13

"Bebo"

Bebo de lábios sangue.
E saliva.
E doce mel.

Bebo de lábios contos sem memória e fotos em tonalidades sépia, difuso pacote de dias e…
Noite...

Elevada está a lua.

E nem tu nem eu.
Nem sós nem acompanhados.

Irmanados no divórcio e na tentativa frustrada.
Tantos caminhos calcorreamos em lajes nuas de brilho emprestado e lunar.

A morte é minha amante infiel…

2006-03-07

"Cogumelo"

A semente do fim reside sempre no início.
Agora a semente do fim não se faz tardar.
Fungo tão belo!...

"Alma"

Alma desprende-se

Alma rasga-se.

Alma tolhida.

Alma partida.

Alma parida.

"Aço"

Só o aço é certo.
Só o aço permanece.
Memórias desvanecem.
Glaciares ficam nada.
Só o aço remanesce.

"Macabro"

Ápice alabastro.
De costela viveu Maria, até se findar.
Abel e Caim.
Amaldiçoado fim.
Putrefacto cogumelo.
Perdeu-se o Sol e a costela.
Ápice luminoso.
Abel e Caim.
Viveu lá Maria.
Relampejares, trompetas, olhos raiados de sangue.
Rubor, antes desse fim macabro.
Alabastro e Macadame.

"Maria na cruz"

Maria na cruz.
Dor atroz.
Somos naturalmente pérfidos.

Maria na cruz.
Sangue em corpo alvo.
Somos naturalmente ávidos de dor.

Maria na cruz.
Acabou.
Carinho, beleza.

Maria na cruz já não seduz.