2005-06-28

"Rabisco"

Um rabisco na areia dita o meu destino. Por isso tantas vezes corro e me dissolvo na espuma das ondas.
Um rabisco naquela praia dourada de abandonos e partidas, dita sempre o meu destino.
Por isso tantas vezes quase me afogo nessa água estranhamente quente estranhamente doce.
Um rabisco naquela praia, já não o recordo como salgado e frio.
Já não mais.

Um rabisco na areia.
Ditou sempre o meu destino.

Levou-o o mar?
Trouxe-o o mar?

Rabisco eterno marcado a fogo, tatuado na alma, na pele, no suor e na saliva.

Pedro o nome, o meu nome, o nome da praia, do lugar, do santo, do mito e da fé.
Acredito.
Sinto-o a cada instante.

Só posso ser Pedro.
Minha praia Pedro.
Meu destino Pedro.

Rabisco e um par de nomes na areia, para sempre.
Um deles Pedro.

"Ausências"

Ausências.

Ausências até de mim.
Falha o ar de rarefeito.
Foge o suor melado e cansado.

Ausências, recantos de memórias, faladas, cantadas, agora parecem esgotadas, ausências de mim.

Chove e faz Sol. Até o tempo anda ausente de si.

Amo e choro.
Sentimentos evaporam-se em nuvens.
Existem. Deixam de existir. E chovem em catadupa.

Ausências.
Várias.

Só a alma nunca foge, lentamente se dissolve em álcool e saliva.
Bocas de mulheres a arder.
Bocas de garrafas a arder