2007-04-27

Poética lição

A poesia mais bela não se escreve.
Vive-se.
A poesia mais bela, não a digo, não a conto.
Respiro e embriago meu olhar em seu olhar.
Vivo-a.
A poesia mais bela não perece, não nasce, não renasce.
É eterna.

Os pássaros têm asas de liberdade.
Nós temos os sentidos e temo-nos uns aos outros.
Nós temos momentos, eternos momentos de tempo imperecível.
E memórias.
E sonhos.

A poesia mais bela não se escreve.
Vive-se.
Um dia na sala de aula.
Ontem no cinema.
Hoje no restaurante.
Amanhã numa esplanada perto do Mar.
Vive-se.

A poesia mais bela, encerra também tristeza, que isto da beleza em toda a sua plenitude, nos prenda com alegrias e o reverso.
E saudade...
Do passado, do presente, do futuro…
Saudade…
Plena imperfeição nosso fado, nosso destino, nossa vocação.
E assim mesmo bela poesia.
Nostalgia.
Alegre melancolia.

Um dia morreremos.
Não morrerá o que somos.
Digo o que somos e não o que fomos.
Como a poesia encerramos tristeza e o reverso.
Encerramos vida e o reverso.
E tal nos torna eternos.

A poesia mais bela, vivo-a todos os instantes.
Sagrada alegria.
Sagrada bênção de dias e de noites como os últimos, como os próximos, como os primeiros.

Cada instante é uma lição. Uma poética lição.

2007-04-25

Liberdade

Liberdade!

Escrever!
Quando preciso de dizer tudo o que penso e tudo o que sou e tudo o que sinto e tudo o que sonho.
E tenho apenas um instante, um momento, um curto e efémero segundo do tempo.
Sufoco.

Escrever!
Como respirar, como comer, como beijar, como sorrir, como mirar-te nos olhos e ver tão claramente tua alma.

Uma vez poeta, sempre poeta.
Uma vez apaixonado, sempre enamorado.
Uma vez Vivo, nunca Morto.

Escrever!
Sempre!!!

2007-04-23

Puma

Não sei quantas vidas temos.
Em mim conto não uma mas já três.
Sangue de felino lutador?

Sim!

2007-04-22

Mistério

O dia de amanhã é um mistério.
Um que se desvendará na alvorada.
Clara luz, frio ar, pulsar de sentimento.
O futuro tudo encerra e tudo revelará.
Suspiro, sorriso, sonho, sublime, surpresa.
Ainda encerra esse mistério.
Despertar da alvorada.
Que tarda.
Que tanto tarda.
Como tardas tu a chegar.

O dia de amanhã é um mistério.
Como o é teu sorriso e teu olhar, na alvorada.

2007-04-18

Primavera pelo ar!!

Primavera de suspiros e de poeira no ar.
Primavera de sorrisos e de tantos ventos no ar.
Primavera de ciscos nos olhos e sorriso no ar.
Primavera de luz nos olhos e carícias no ar.
Primavera de melodias e outras palavras no ar.
Primavera de sardas e outras paixões no ar.
Primavera de promessa e mentiras esvoaçando no ar.

Primavera pelo ar!!

The Painted Veil


Véu de mil tons pastel.
Em cada cor asfixia.
Em cada cor desespero.
Em cada cor ilusão de alegria.
Véu de mil tons, todos eles pastel.
Palavras e sentimentos, delicados gestos e perdição de luxúria.
Asfixia, desespero e ilusão de novos dias.

Véus mil.

Véus que ocultam e que revelam.

Vida do rio e da floresta, um casal que não se sabe amar, simbiose imperfeita.
Vida em rosto sem fé, em terra sem água, em existência sem sanidade.
Vida em gotas de orvalho, em lágrimas no rosto, em marcas do tempo.

Véu pleno de tons pastel que tudo tomam, que tudo abraçam, que tudo sugam e que tudo acolhem.
E dias atrás de dias, correr de tempo intranquilo e cada vez um pouco mais mutável.
E dias após dias, percorrer sem medo trilhos, selvas, madrugadas.
Véus pastel na tristeza de um amanhecer frio.

E a carência de um abraço.
E a carência de um abraço.

2007-04-17

"Eterna Trovoada"


Se toda a trovoada do mundo se libertar na minha vida, em ribombar ensurdecedor;
Sorrio.
Se de loucura, se de alegria, se de em paz de espírito ou se ensandecido;
Não interessa.
Se toda a fúria da intempérie se soltar no meu lar, em mil tons de luz, fogo, asfixia;
Sorrio.
Se de perdido em outros sonhos, pesadelos ou galopantes devaneios.
Não interessa.

É efémero o momento.

Eterno apenas o sentimento.

2007-04-12

"Um dia"

Sonhei-te num dia de chuva, enclausurado no meu pequeno quarto.
Fazia frio e os vidros derramavam largas lágrimas.
Na ténue luz desse dia, nasceu a ideia, nasceu a magia e saíste de mim.
Sonhei-te nesse dia, faz já demasiado tempo.
Celebrava evento nenhum e desejava apenas o correr rápido do tempo.
Entardecer e alvorada, noites e dias sempre em branco.
Multiplicava-se o vazio, em sucessões de combinações ocas.
Solidificado gelo em moldura de prata, rasgada alvorada, rasgada palavra amada.
Sonhei-te um dia…

2007-04-05

"Doce, doce"

Ai doce, doce, doce, alvorada terminada.
Ai doce, doce, doce, entardecer em tons de negro veludo.
Ai doce, doce, doce, flor colhida, flor cortada, flor amada.
Ai doce, doce, doce, olhar sisudo.

2007-04-03

"A pesar"

Amanheceu, num dia cândido e celeste, apesar de um pouco frio. Agradeço calorosamente a bênção de estar vivo, apesar de incompleto. Abertura da casa, janelas, portas, ar fresco e raios de luz entram, apesar de não carregarem para longe o negrume. Acolho o início do bom tempo, apesar de não terminada a intempérie. Assim como assim, visto-me e barbeio-me e corro para um trabalho, apesar deste correr constantemente de mim. Amanheceu, no brilho do olhar muitas histórias, apesar de nem todas com final feliz. Agradeço este dia, como o anterior, como o antecedente, apesar de o amanhã ser sempre incerto. Abertura de rosto e sorriso e peito, apesar de estar já tão ferido. Acolho a vida, as alegrias e o inverso, apesar de o balanço ser sempre modesto. Assim como assim, é um dia novo que desperta, a pesar no peito uma alegria e o inverso.

2007-04-01

"Estranho"


Estranho mundo...

Hoje infértil.

Amanhã fecundo.

De mim mesmo sou alheio.

Motivo de espanto e de um certo receio.

Estranho o meu mundo.

Tanto de infértil como de fecundo.

"E..."

E...
Nas partidas... Despedidas...
E nos regressos... Retorcessos...
E nas encruzilhadas.. Todas as moradas...
E...
Nos lábios todos os néctares e todos os segredos...