2006-01-30

"Cinema"

Sedosa aventura em cabelos rebeldes.
Doce descida nesse inferno rosado.

Pelo menos o filme tem um nome e o lugar de estacionamento não é pago.

Arrepio na tua íris, medo de outras canções,
Meus lábios, outras palavras, língua quente.

Perco-me todas as vezes na tela branca, passam actores, figurantes, letrinhas pálidas.

Coxas e outros prefácios de prazer pronunciado bem perto.
Posso sempre tocar-te no escuro, ou não?

Projector incansável, cento e cinquenta minutos de luz e som.

E eu e tu, e um Universo de conhecidos, desconhecidos à volta.

Mais um filme, denominador comum e outro dia. Frio.

"Hoje"

Hoje abandonou-me Camões…
Hoje abandonaram-me Pessoa e até o Mário.
Queridos amigos de tantas e aconchegantes memórias.

Poesias de Amor e de abandono.

Hoje, perdido nas palavras e nos carinhos de ontem, não sei nem conheço o futuro.
E hoje, do dia de hoje, estou alheio.
Alheio e contrafeito, coração perdido, se de borracho se de desfeito,
Não sei.

Hoje, deixaram-me amigos e palavras.
Meus velhos companheiros de viagem… Até Bocage me abandonou.
Escárnio ou maldição, tal regalo não tenho, nem ironia do destino, nem má fama, nem má fortuna, nem Amor ardente…

Só demente…

Hoje abandonou-me a Cecília, o poeta, não faz rima, não sente, não vê.
Sem asa ou pronúncia ritmada, azar ou infortúnio, não tenho.

Hoje são cegos os olhos de meu coração. Maldita cidade pequena!

2006-01-20

"Fosse"

Fosse passado presente e não haveria apenas uma estrela, mas sim uma constelação.
Fosse paixão omnipresente e o céu tremia de novo como da primeira vez.
Fosse agora esse sorriso perfeito na sombra do arvoredo, dia quente, nunca esquecido.
Fosse fácil e seria sempre presente, esse sorriso de estrela de céu perfeito.

2006-01-18

"Beauty Killed the Beast"

"Beauty Killed the Beast"... E existe um King Kong em cada homem...

"Fotos intermináveis fotos"

Ainda agora via tuas fotos.

Todos os teus traços memorizados.

Todos teus suspiros memorizados.

Via tuas fotos.

Riso e choro abandonaram-me.

Também.

Ainda agora, agorinha, inicio de noite invernosa, por isso fria, por isso solitária, via tuas fotos… E de novo fazias-me companhia.

Todos os teus declives marcados.

Todas tuas virtudes e defeitos em bê-á-bá soletrados.

Memórias… Quentes mas amargas.
Riso de lágrimas salgadas.
É Janeiro caem mil ventos, mil bátegas de água, doce, doce, amargosa.

Tua foto criatura amada.

2006-01-11

"Portugal"

Formas
Sombras
Figuras.
Contornos.

Destinos indefinidos.

Vagas ideias, num comodismo malvado de inocente.

No futuro céus rosa e espumas de algodão doce.

Não importa o presente.

Formas, silhuetas indistintas.

Que face terá este meu Portugal daqui a dez anos?

Rude presente, desemprego e redondos falhanços.

Este povo não merece isto, nenhum povo merece isto.

Fado mudo.
Fado mudo e afónico.

Silencio de bater de asas, desse outro lado do planeta.
Demos novos mundos ao mundo.

E agora?

Contornos indefinidos.

Imagens sinistras.

Futuro que se quer rosa, de algodão doce.

Não importa o presente.

Nem exporta…

País parado de petrificado.

Que futuro terá meu Portugal?

Formas
Sombras
Figuras.
Contornos.

Destinos indefinidos.

2006-01-09

"Pecado e Inferno"

Chamei-te sereia.
Foste onda.
Eras espuma e ouro.
Vida de prisma colorido.
Arco-íris.
Chamei-te pelo teu nome de sonho.
Toquei-te, eras nuvem.
Quente veludo.
Estrelas.
Chamei-te pelo teu nome dos Homens.
Carícia quente, derretidos finais.
Lava, ondas do mar.
Vapor.
Chamei-te floresta.
Eras verde e azul celeste.
Dia e noite não terminavam.
Espaço eterno todo teu.
Danças de vento sensual.
Umbigo.
Eras cor de carne.
Incandescente luxúria.

Meu pecado, meu inferno.

2006-01-06

"Último"

O meu último suspiro é teu.
O meu último sorriso é teu.
O meu último pensamento derreteu-se num céu em fogo, cidade distante…
Amor sempre errante.

O meu último suspiro é ou foi teu.
O meu último beijo é ou foi já teu.
Céu baixo, estrela cadente, voo rasante.
Amor uma e outra vez errante.

2006-01-02

"Devaneio Fabril"

Quando uma Etar é um lago, um relvado pode ser um campo de golfe.
Quando uma fábrica é uma herança já pesada, o futuro só a custo será risonho.
Quando a aldeia global nos deseja desemprego, um sorriso apenas não será a solução.

"Tanto Tão Pouco"

Há sempre tanto para dizer.
Há sempre tanto para fazer.
E da vida apenas arrasto um suspiro.
E da vida apenas roubo um sorriso.