2004-10-19

"A arder"

Infinito branco rasgando o Oceano.

Não vás!
Deixa-te ficar.

Recado de memória infiel.

Nunca chegaste a ser

2004-10-18

"Mais"

Mais do que tristeza ou simples abandono.
É este terror de não te ter aqui a minha prisão.
Mais do que palavras, pensamentos, ou omissões.
Este acto vazio de calor, tua ausência.

Mais do que cabimento ou raciocínio.

Sentimento.

Mais além, carícia no teu rosto de detalhes gentis, suaves, quase infantis, decerto inocentes.
Mais além, céu pequeno contido de ais e de uis, arco-íris quase primaveril.

Paixão.

Mais tu, mais eu, mais nós.

Mais, mesmo quando não te tenho aqui, prisão de rosas e cardos, perfume luminoso e alvo.

Mais, mesmo quando na ausência não deixa de fazer sentido, só nós e mais nada.

2004-10-13

"Perfeito"

Ai!
Ai!

Suspiros.

Enfado apenas o início do dia.

Ai!
Ai!

As estrelas caem em cachos sobre teu cabelo. Olhos de mel e de veludo perfeito.
Brilho.

Ai!

Tudo termina, menos a vida.
Tudo termina, menos esta declaração de amor.

Ai!

Sumir em mil poros de indecisas e inseguras palavras.

“Leda vai Leonor”
“Descalça”
“Sobre a verdura”

Não és Leonor.
Não te posso chamar pelo nome.
Não ainda.

Que foges, que somes.

Tudo termina.
Menos a nossa vida.

Ai!

As estrelas caem em cachos sobre teu cabelo. Olhos de mel e de veludo perfeito.
Brilho.
Perfeito!
Perfeito…

És Leonor.

2004-10-12

"Fatal"

Aqui chegado, não sei se me abandone, se me encontre.

Aqui chegado, derrota ou vitória, desconheço.

Fatal só mesmo o destino.

Aqui chegado, ponto de partida, mais que porto de abrigo.

Abandonado.
Refúgio amado.

Aqui chegado.
Curto segundo, contado.
Curto segundo, roubado.


2004-10-08

"Palavras de Abandono"

Quantas palavras tenho de usar?

Quantas terei de vestir para falar de ti?

Parecem-me já tantas e mal iniciei.
Vi-te hoje, como numa visão.
Acabava o meu mundo, mas surgias tu.
Não sei se haveria ainda espaço ou tempo para te amar.
Só que tudo acabava, incendiado e retorcido.
Queimando talvez em agonia final.
Acabava.
Tudo, em mim.
Mas havias tu.
Palavras?
Que palavras?
Verbos, predicados, sujeitos, adjectivos?

Chamar-te anjo escondido, da amantíssima despedida de beijo fosforescente e final?

Tantas, tantas palavras…

Pudera eu desenhar-te e talvez assim fosse mais fácil.
Mas não, de certeza falharia nas cores, morrão mata morrão, como agora falho nas palavras, tantas, rodos.

E tu és só uma.

Esperança?

Angelical?

Tudo já possuído por tantos antes de nós…

Talvez apenas teu nome.
Sim teu nome.

Mas não o sei ainda, não mo disseste.
Talvez dentro em breve, sim dentro em breve, anjo, meu amor, esperança final, emulsão de luz negra…

Talvez dentro em breve mo digas.
Talvez a visão continue, como pesadelo salgado, retorcido em tons amorfos, mas quentes.

Talvez to ouça em brado, grito liberto no meu momento final. Para que te recorde, no fim.
Para que recorde que todo o fim é um começo.

Por isso não há fim, nem começo.

Existes tu.

E eu existo apenas para ouvir-te pronunciar essa única palavra.

Abandono…



2004-10-07

"Sempre"

Hoje apetecia-me abraçar-te. Ter-te nos braços e dizer “está tudo bem pequenina”.
Ao fundo o céu e o oceano. Um farol como na nossa infância.
Hoje…
Que mentiroso sou.
Hoje e sempre.
Sempre.
Ter-te nos braços, embalar-te como as ondas embalam as gaivotas em eterno voo pasmado.
Ter-te, sempre, deslumbrar-me no teu cabelo como na espuma alva da vida do Oceano.
Hoje e…
Sempre.

2004-10-05

"Nós"

O meu desejo e o teu desejo, gigantes em fome devoradora.
Olhares intensos e verdadeiros, avalanche ensurdecedora.


Nunca te vi como então te vi. Todo o Universo parou mesmo o vento em meus pulmões. Lábios que se moviam tentado sussurrar teu nome no até então vazio firmamento.

Nunca te vi como então. Desde então só a ti vejo. Dia ou noite. Calor ou frio. Estrela em asas de luz. Pimenta, alimento, furor, paixão, sustento.

O meu desejo, não o escondo, gigante em luz abrasadora.
O teu desejo, não o susténs, gigante em forma encantadora.

Nunca seríamos outros. Apenas somos e estamos aqui.

2004-10-03

"Pecado"

Pecado é pensar e não fazer.

Pecado é fazer e não pensar.

Pecado é o início e o fim do prazer.

Pecado é tudo isto e mais muito mais.

Reflexo de teu olhar perfeito em noite quente de luar…

Pecado, mais que desejar é amar.
Hoje tudo é pecado.
Pequemos então…

"Sim"

Ver-te é desejar-te. Tocar-te é devorar-te.

Veres-me é sumir-se tudo o resto. Tocares-me é devorares-me.

Estares no alcance de um suspiro é o céu. Profano, quente e vermelho céu. Abençoado por mil querubins e mil mafarricos.

Passo no precipício final, seres esse alguém, só tu és esse alguém infinito e eterno.

Como a vida que renasce na íris de teus olhos, assim todas as madrugadas, como o incenso que queima sem fim.
Altar.
O Mar.
Em fúria como cabelos despenteados, renascendo nesses luares perfeitos desenhados na tua boca, feliz.

Umbigo, o teu, prazeres etéreos, em ti, em mim.

Mais além, fogo já no fumo de um sim.

Teu rosto e corpo delicado e gentil.

Sim.

2004-10-01

"Olhos"

Não têm nome nem têm cor.
São os olhos de meu amor.

Noite escura e opaca, mas não fria.
Sombras de luz ardendo, labaredas, tua companhia.

Não têm contornos ou adornos.
Olhos perfeitos, jóias silenciosas.
Beijos delicados e acabados.
Ultimatos rosados.

Infernos, Invernos de neve parada nas janelas.


Não tens nome nem cor.
Apenas te chamo: “Meu Amor”