2008-05-25

Amei-te

Amei-te mulher. Como sempre te amei. Como sempre me ensinou a vida a amar. Com entrega total e de forma absoluta. Amei-te mulher. Com todo o ar que me corria nas veias e nesta tantas vezes amarga existência, fui feliz, algum tempo contigo. Com todo o ar que me corria nas veias e vontade de o ter, respirei, suspirei e expirei por ti.
E respirei, suspirei e expirei, até esse acto de traição consumado sem aviso, sem apelo, sem razão, sem tino, sem calor algum. Adaga trespassando as costas até ao peito.
Amei-te mulher.
Como se ama da primeira vez.
Como se ama da última vez.
Como se ama da única vez.
E mataste-me sem aviso.
E mataste-me sem aviso, golpe certeiro, nas costas, na direcção do peito.
E agora…
Que me esvazio de sangue.
De ar.
De amor.
Que me esvazio, em poça disforme, em corpo inerte, em poça disforme, em corpo inerte.
Amei-te mulher.
Não quiseste meu amor.
Tanto melhor.
Não quiseste minha vida
Tanto melhor.
Amei-te mulher.
Não me corre sangue nas veias.
Não me circula ar no corpo.
Tanto melhor.
Aguardo Fénix.
Suas lágrimas.
Para que das cinzas, eu como ela, volte a sentir:
Vida!!!!!

2008-05-21

Mergulho

Mergulho
Desafio-te
Arremesso-me.
Abismo.
Queda.
Confiança.
Mergulho.
Liquido salgado.
Voo sobre as escarpas.
Nem respiro.
Desafio-me.
É vida.
E é morte.
Confio.
Destino.
Mergulho, mergulho, mergulho.
Afirmo.
Espírito.
Santo.
Asa.
Mergulho, mergulho, mergulho.
Se morrer que seja da queda, não do voo.
Se morrer que seja da abundância não da escassez.
Se morrer que seja de uma vez e não aos poucos.
Se morrer que seja agora que tanto me dói. Agora que tanto me sangra. Agora que não sei, não consigo, não posso.
Se morrer que me fechem as portas do céu e do inferno. Que seja tudo limbo, para que não estranhe, para que nunca estranhe o resto desta existência incolor.
Se morrer que seja sem sangue, sem luz, que seja agora, agora, sem luz sem sangue, término do caminho, término da dor e de toda esta insuficiência.

Amor e dor


Amor e dor.
Como duas fases da mesma lua.
Amor e dor.
Insanidade de se ser possuído pelas duas em simultâneo, num mesmo corpo.
Frágil instante, a vida.
Se já transbordei de amor… Hoje tomou posse a dor…
Que me cega, que me rasga, que me faz uivar de raiva.
E falha-me a voz.
E falha-me a força no corpo e até o olhar se me queda baço.
É doença.
Sim um e outro, têm de ser doença.

Que nos mata, devagar, em sangria antes do arroz de cabidela.
Afinal, afinal o alimento sou eu.
Louco sustento.
Vazasse-me o sangue e com ele toda a alegria, toda a vida, toda a esperança.
Vazasse-me o sangue, desejo que também os olhos e os ouvidos se tivessem vazado para que não visse, para que não ouvisse.

São lágrimas minha senhora, são lágrimas.

Foram rosas um dia.
Foram dias de alegria.
Foram dias de perfumado êxtase.

São horas, dias de agonia.
Sangria, sangria...
O sacrifico sou eu.
Alimento, alimento…

Instante

Amiga a vida é apenas breve suspiro.
Apenas isso.
Nascemos, num instante.
Sorrimos.
Vivemos gargalhada solta, calor e brilho no olhar.
E falecemos, no instante seguinte.

Eterno o suspiro, o momento, a luz no rosto, a liberdade e a melodia de todas as palavras bonitas que trocamos.

E neste breve segundo, somos divinos.

Nesse suspiro vivemos. Que seja um suspiro libertador, quente, vivo, amigo. Que seja um sorriso, uma gargalhada. Que não morem lágrimas nesta morada!

2008-05-12

Primavera


É Primavera e não tenho mãos, mas sim ramos.
E não tenho poros, mas sim flores.
É Primavera e não tens olhos, nariz ou boca, és toda tu floresta e Sol.
Desejo e encanto.
E não sei nomes, nem palavras, nem rios, nem mares.
Só sei risos.
Risos libertos, os teus de madrugada quando acordo.
Risos, os nossos quando nesse leito adormecemos.
É Primavera e não sei questão ou resposta.
Sei dia.
Sei dia sim, dia não.
Noite, estrelas.
Em teus olhos.
Estrelas e Primaveras.
E tempos sem fim.
Segredos. Sussurros. Gemidos de amor.
É Primavera.
Tulipas, papoilas, jasmins….
Amor-perfeito.
É Primavera e não tenho mãos para te abraçar, apenas ramos para te proteger.
E não tenho poros, apenas flores, milhares de flores, milhões de flores, que na orla da floresta de teu olhar fazem cerco.
E um dia esses milhares de milhões de flores sonharão.
E seu sonho será só um.
E será ardente.
E será em fogo.

2008-05-07

Finalmente


Digo-o sem o dizer e conto-o sem o contar.
Suspiro.
Sou um estranho de mim.
Sorriso.
Um estranho de mim.
Amanhã será um novo dia.
Hoje tarda tanto.
Mesmo debaixo do céu estrelado o hoje tarda imenso.
Digo-o e conto-o num olhar.
Suspiro.
Ergo o olhar, perscrutando no infinito a resposta divina.
Talvez em mim.
Talvez em mim um dia a resposta divina.
Sorriso.
Estranho.
Sou de mim mesmo.
Amanhã sei que será um novo dia.
Hoje no embalo do melhor dos barbitúricos entrego-me.
Estranho.
Eu.
Eu mesmo.
Hoje, tanto se demora.
Que venha o fim.
Que venha o finalmente!

2008-05-04

Viver

Por vezes temos de viver.
Parar um pouco do corre-corre, do mata-mata e viver.
Não digo "apenas" viver, porque quase sempre não é fácil "apenas" viver e não lhe quero tirar a força ou desmerecer o acto de percorrer o dia e a noite em ciclos que mesmo que imperfeitos, se tocam, se abraçam, se completam. Por vezes temos de viver. Sentir o pulsar do nosso coração, a brisa matinal, o gentil correr das nuvens pelos céus, a fuga do sol e o céu estrelado mesmo antes de adormecer.
E viver no calor da gratidão de existir.
Mesmo na imperfeição do ciclo do dia a dia, do corre e corre, do mata e mata.
Deixarmo-nos guiar pelo destino.
Sim somos mestres e senhores, sim somos divinos.
Mas o destino mesmo assim corre ligeiro, tantas vezes parece viver o dia, a noite, as alvoradas e os entardeceres por nós.
Só que o destino não se alegra e não se entristece...
Eu sei, eu sei...
Só que viver "apenas" viver, pode ser tranquilo e preenchedor, não é necessáriamente mediocre ou insuficiente.
Eu sei!
Rebelde assim mesmo, inconformado assim mesmo.
E no entanto vivo apenas.
Poeta e apaixonado assim mesmo.
E no entanto vivo apenas.
Como o coração, como o nosso coração que não precisa que pensemos nele a todo o tempo para que se insurja contra a mediocridade da inércia e apenas nos dá vida.
Apenas, apenas...
Viver.
A luz do dia irradia sempre e alegra sempre meu coração.
Nunca me reduzo ao acto de apenas viver, mesmo quando aparentemente, aparentemente o faço.