Hoje escreveria em tinta ao invés de sangue, ao invés de lágrimas ou suor.
Hoje escreveria em tinta, uma e outra palavra. Algumas até desprovidas de vida, sentido e sentimento.
Um dia, um dia, talvez hoje escreveria, desgarrado do som e da emoção, mas não ainda…
Não ainda hoje!
Hoje tardas, minutos, horas…
Faz um vento semi-frio.
Consola-me o Oceano, como o Sol morno consola a areia a meus pés.
Tardas, uns minutos apenas, eu sei, já tardou mais.
Que não venhas munida de lágrimas ou outras dores, sinais esses sim do fim do Verão.
Hoje é ainda Primavera, gaivotas, andorinhas e uma promessa de tinta e palavras e outra promessa de sangue e suor.
Ai que me fazes confuso!
Que já não sei se escrevo, se te escrevo, se sinto e se sei.
São palavras sim.
Questiono-me sobre os sentimentos, sobre o sentido de tudo isto.
Tinta, sangue, suor e lágrimas, química imperfeita, até porque tardas, tardas tanto!
Que venhas, segura, que venhas munida de teu sorriso avassalador. Que se silencie o frio e se faça mais quente este Sol.
Que venhas, segura, que venhas munida da Primavera, porque é ainda muito cedo para o fim do Verão!